Título: Entre os nomeados, um líder radical
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Economia & Negócios, p. B4
Boa parte dos diretores nomeados pelo governo da Bolívia para assumir postos executivos na Petrobrás Bolívia impressionam por duas características comuns: não são do ramo e têm uma imensa afinidade política com o governo de Evo Morales. O caso exemplar é de Santiago Sologuren, novo diretor da Petrobrás Bolívia Refino (PBR). Sologuren foi um dos principais líderes da "guerra da água", revolta popular com bloqueio de ruas e confrontos violentos que terminou com a saída da Bolívia de uma empresa francesa que pretendia privatizar o fornecimento de água em Cochabamba, berço político de Evo. Agora Sologuren terá a incumbência de zelar pelo funcionamento da principaL refinaria de petróleo da Petrobrás na Bolívia.
Sologuren é membro do grupo Movimento Pátria e Soberania que tem como objetivo declarado dar impulso à nacionalização das empresas estrangeiras que operam no país. Sua posição é bem clara nos artigos que escreve para o jornal Los Tiempos de Cochabamba, um deles com o título "Sim, sou radical".
Sologuren é advogado e matemático e quando não está organizando protestos de rua, anima atividades culturais na Associação de Matemáticos da Bolívia - organização da qual é presidente. Seus amigos o qualificam como um lutador e pessoa muito honesta que não milita no partido de Evo, mas tem muita afinidade com sua linha política. Informado pela nomeação, um engenheiro boliviano com grande experiência no setor de gás e petróleo reagiu. "Mas é um nacionalista furioso. Não entende nada de petróleo."
Outro nomeado tem como credencial política a posição de adversário dos inimigos do atual governo. É Waldo Oblitas, advogado e irmão de Edgar Oblitas, ex-presidente da Corte Suprema de Justiça da Bolívia que foi destituído por Gonzalo Sánchez de Lozada.
De Victor Hugo Cuéllar, além de ser militar, quase não se tem nenhuma referência. Sabe-se que trabalha na cidade de La Paz. É pouco conhecido também outro nomeado pelo governo, Sergio Miranda, e o síndico, Jorge Soruco, este também militar.
Dos 20 diretores e 8 administradores nomeados para cinco empresas há um caso estranho: o jornalista, historiador e advogado José Luis Roca. Ele foi ministro da Agricultura no governo de Jaime Paz Zamora, que era simpatizante da ADN, partido do general Hugo Banzer Suarez. Roca cuidará da Transredes (responsável por parte do transporte do gás ao Brasil).
Os nomes foram definidos pelo presidente da YPFB, Jorge Alvarado, pelo ministro de Hidrocarbonetos, Andrés Soliz Rada, o presidente do Senado, Santos Ramírez, e o presidente Evo, com algumas sugestões do superintendente de Hidrocarbunetos, Víctor Hugo Sainz.
A missão dos novos diretores e administradores é exercer um controle minucioso sobre as empresas e também preparar o terreno para quando o governo entregar definitivamente as companhias a executivos bolivianos.
Segundo o governo, as nomeações estavam previstas no Decreto de Nacionalização dos Hidrocarbunetos que tem como finalidade recuperar os recursos de gás e petróleo da Bolívia e controlar sua produção, comercialização e negociação com empresas e países.
Na última década, as empresas estrangeiras do setor investiram no país cerca de US$ 3 bilhões.