Título: No Pantanal, uma siderúrgica EBX
Autor: João Naves
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Economia & Negócios, p. B5

Está confirmada a implantação da Siderúrgica EBX em Corumbá, Pantanal de Mato Grosso do Sul, no oeste do Estado. O conglomerado siderúrgico liderado pelo empresário brasileiro Eike Batista ocupará 60 hectares de área no distrito de Antônio Maria Coelho, a 40 quilômetros do centro da cidade, para a construção do parque industrial. Outros 33.800 hectares, fora da bacia pantaneira, serão usados para produção de carvão vegetal feito de eucalipto, cuja produção é de 1,18 milhão de metros cúbicos de madeira por safra.

Segundo o secretário estadual de Meio Ambiente, José Elias Moreira, a construção da indústria pode se iniciar em junho após aprovação, pela pasta, do Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima). O investimento será de US$ 75 milhões nos 16 meses de obras, e serão criados 2.600 empregos na construção e 230 na operação. Prevê-se produção de 375 mil toneladas/ano de ferro-gusa. "Acredito que até o fim deste mês ou início de junho a licença de instalação da siderúrgica será concedida à empresa."

No EIA-Rima, foram apontados 15 tipos de impactos negativos no Pantanal em decorrência do funcionamento da siderúrgica. Entre eles, estão a interferência sobre a cobertura vegetal e a fauna local, geração de ruídos, de poeira e gases, de afluentes líquidos, alterações na paisagem natural, interferências com uso e ocupação das terras, pressão no quadro da saúde pública local e alteração no cotidiano da população.

Para o prefeito de Corumbá, Ruiter Cunha de Oliveira (PT), os impactos negativos ao meio ambiente "não são bicho-de-sete-cabeças". "Há impactos, é claro, mas podem ser minimizados. A empresa mostrou que atende às normas e à legislação. Vejo perspectiva de criação de emprego e renda e a possibilidade de agregar valor ao minério produzido em nossa região."

'PARA QUÊ?' Dezoito áreas serão desapropriadas para dar lugar à siderúrgica em Antônio Maria Coelho - um lugarejo habitado por famílias que vivem da produção rural -, e o fato está agitando o local. Um grupo de 60 pessoas sem-teto, acampadas no centro do distrito, vestiu camisetas brancas com a frase "Siderúrgica para quê?"

Segundo os empreendedores, o carvão vegetal é a principal matéria-prima - estima-se a necessidade de 216 mil toneladas/ano para atender à demanda industrial. Mas a EBX garante que não vai usar eucaliptos do Pantanal. Serão produzidas 5 milhões de mudas de eucalipto para plantio em áreas compradas ou arrendadas. Até as mudas atingirem a idade de corte, daqui a seis anos, a indústria usará carvão vegetal já produzido, sendo 70% de origem paraguaia e 30% do Brasil.

Várias organizações não-governamentais de proteção ao meio ambiente estão freqüentando o acampamento em Antônio Maria Coelho, oferecendo apoio aos sem-teto organizados. "Se a Bolívia não permitiu o uso de carvão vegetal na siderúrgica, por que nós, aqui no centro do Pantanal, com gasoduto do gás natural passando nas nossas portas, vamos permitir isso?", indagou um deles.