Título: Mantega nega ter atrito com Meirelles
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Economia & Negócios, p. B7

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tentou minimizar o embate travado desde o último fim de semana e desfazer o desconforto entre ele e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. "Que mal-estar? Imagina. Só dou declarações elogiosas em relação ao BC", afirmou Mantega, após questionamentos dos repórteres. "Nós temos excelentes relações", disse o ministro, informando que vai almoçar com Meirelles quando ele voltar da Basiléia.

No domingo, Mantega afirmou que a paz com o BC estava condicionada à continuidade na queda dos juros. No dia seguinte, Meirelles, numa operação de bastidores, rebateu dizendo a presidentes de bancos centrais de vários países que se sentia "desconfortável" com Mantega à frente do Ministério da Fazenda. Dando prosseguimento à reação, Meirelles disse anteontem que o BC ouve todas as opiniões, mas "toma decisões sozinho" e não se sente pressionado para tomar as decisões da política monetária.

Questionado sobre declaração de Meirelles de que as opiniões da Fazenda não interferem nas decisões do Comitê de Política Monetária, Mantega respondeu: "Não interferem mesmo. O Copom tem autonomia para decidir. Agora, o ministro da Fazenda tem obrigação de analisar a situação econômica, a inflação e tirar suas conclusões. Já pensou um ministro da Fazenda não ter opiniões sobre economia? Seria o fim da picada. Mas é claro que o Copom tem autonomia para decidir."

O ministro voltou a dizer que a situação da inflação permite ao BC continuar reduzindo os juros básicos, atualmente em 15,75% ao ano. "Eles têm sensibilidade para analisar a inflação e, a partir dessa sensibilidade, é obvio que você vai ter a continuação das reduções da taxa." Segundo Mantega, a inflação está sob controle e com registros de deflação nos índices de preços de atacado, o que torna o cenário inflacionário positivo para a continuidade da trajetória de cortes na Selic.

A contenda entre ministro da Fazenda e presidente do Banco Central elevou o grau de incerteza sobre a condução da política monetária. Analistas avaliam que, para reafirmar sua independência, o BC pode reduzir o ritmo de corte nos juros. Isso, no entanto, já é esperado pelo mercado desde que o Copom usou na última ata a palavra "parcimônia", ao se referir às próximas decisões do órgão. No governo, a avaliação é que Mantega exagerou na fala, provocando mal-estar desnecessário na equipe econômica.