Título: Protestos chegam a São Paulo
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

Iniciado há duas semanas no Estado de Mato Grosso, o protesto dos produtores rurais contra a crise na agricultura, conhecido como "Grito do Ipiranga", chegou ontem ao Estado de São Paulo. Sindicatos rurais da região do Médio Vale do Paranapanema, no sudoeste paulista, mobilizaram cerca de 800 produtores para bloquear o acesso dos principais entrepostos de produtos agrícolas das regiões de Ourinhos e Assis. As manifestações ocorriam simultaneamente em 23 municípios da região, maior produtora de grãos do Estado.

Hoje, o movimento chega ao Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado, onde os agricultores farão o enterro simbólico do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Amanhã, a região norte adere ao protesto, com uma passeata em Ituverava e uma concentração de máquinas nas margens do km 410 da Rodovia Anhangüera.

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Cândido Mota, João Motta, os produtores optaram por bloquear os silos em vez de fechar estradas para impedir o escoamento da produção. "O resultado prático é o mesmo: não sai produto nenhum para o porto ou para o mercado." Os depósitos estão carregados de grãos de soja e milho, colhidos na safra de verão.

Os produtores querem o alongamento das dívidas por um prazo de até 25 anos e um seguro de produção e renda. Segundo ele, o agricultor não é contra o produto barato no supermercado, mas precisa de renda para não quebrar. O 'enterro' de Lula será encenado às 10 horas, no km 554 da Rodovia Raposo Tavares, próximo de Presidente Prudente.

Convocados por sindicatos e entidades ruralistas, os agricultores vão se deslocar para o local em máquinas e tratores. De acordo com Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR), não está previsto o fechamento da estrada.

BLOQUEIOS A cidade de Promissão, no interior de São Paulo, parou para protestar contra a crise na agricultura. Tratores, máquinas agrícolas e sacas de milho foram colocadas nas entradas de todas agências bancárias e caixas eletrônicos da cidade. Desde segunda-feira, nenhum correntista entra nas agências. Dentro delas, alguns funcionários trabalharam na segunda e terça-feira, mas hoje nem o gerente não vai mais poder entrar.

A Prefeitura e Câmara Municipal também fecharam as portas e dispensaram os servidores em apoio ao movimento dos ruralistas. O prefeito, Geraldo Chaves Barbosa (PV), quer fazer uma caravana de produtores insatisfeitos a Brasília.

A partir de hoje será a vez das lojas do comércio a abaixar as portas em favor do movimento e o Correio também deverá ter sua entrada bloqueada pelos líderes do movimento. O presidente da Associação Comercial e Industrial de Promissão e diretor do Sindicato Rural da região, Alcides Kaneoka, disse que a crise no campo está afetando o comércio na cidade e, por isso, os comerciantes também protestam.

O agricultor Eusébio Zaplana, um dos líderes do movimento, diz que os produtores reivindicam a renegociação do custeio da safra passada a juros de 4% ao ano - a mesma taxa cobrada da agricultura familiar - e 10 anos de prazo para pagamento, mas os bancos não abrem mão da taxa de 8,75% e dos 5 anos de carência. Os agricultores também pedem preço mínimo e seguro para a safra agrícola.

NO PARANÁ O protesto de agricultores do Paraná, que vinha se desenrolando desde domingo na região noroeste do Estado, com bloqueio das linhas ferroviárias em Maringá e Marialva, estendeu-se ontem para a região norte. Cerca de 700 produtores, de acordo com o Sindicato Rural de Rolândia, também bloquearam a linha de trem que passa pela cidade, colocando tratores sobre os trilhos. Com isso, a América Latina Logística (ALL) deixou de trafegar com cerca de 20 mil toneladas de produtos agrícolas e combustíveis.

Em Maringá e Marialva, a ALL conseguiu liminares de reintegração de posse das linhas. Os produtores, temendo uma multa de R$ 50 mil por dia, decidiram acatar a determinação e liberaram o trecho de Maringá, mas o outro permaneceu fechado. Na região também foram fechados os entrepostos da Cooperativa Cocamar, que apóia a manifestação. Em Astorga, o protesto foi em frente à agência do Banco do Brasil, que permaneceu fechado. "O movimento está crescendo", disse o presidente do Sindicato Rural de Maringá, José Antonio Borghi.

Em Rolândia, os produtores foram ao Banco do Brasil entregar cartas pedindo a prorrogação de suas dívidas. "Ninguém consegue pagar", disse o produtor Moacir Canônico. "A política econômica está nos matando."