Título: 'O que eles pedem é impraticável'
Autor: Fabíola Salvador
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Economia & Negócios, p. B8

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, sinalizou ontem que dificilmente defenderá, dentro do governo, as medidas pedidas por produtores rurais para minimizar a crise do setor agropecuário. "O que eles pediram é impraticável. Conversem com eles", desabafou Rodrigues, bastante irritado, depois de se reunir com representantes dos produtores de Mato Grosso. Nova reunião foi marcada para sexta-feira.

Em 21 de abril, os produtores do Estado iniciaram uma série de protestos para chamar a atenção do governo para a crise do agronegócio. Na reunião de ontem, eles entregaram ao ministro uma extensa pauta de reivindicações, entre elas a de uma política cambial diferenciada para o setor.

Entre os pedidos está uma trégua de 180 dias com todos os credores, sejam empresas ou instituições financeiras, dos setores privado e público. "Nesse período, precisamos do apoio do governo para um plano de refinanciamento dos débitos. Solicitamos que nesse período nenhum produtor seja incluído no sistema de crédito. Essa medida é emergencial, devido à total falta de liquidez do setor rural", disseram os produtores.

Eles também pediram que o governo subsidie o preço do frete para a atividade agrícola, afirmou a senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), que participou do encontro. "Isso é o que eles estão pedindo", disse Serys.

Segundo os produtores, somente com o frete o setor gasta 50% da produção. "Com o fim da subvenção do diesel, em 2001, o item passou a ser um dos mais caros do mundo e principal responsável pelo aumento do custo de produção", diz o documento.

Os produtores também querem a sustentação dos preços de seus produtos e o cumprimento da lei que garante preços mínimos. Outros pedidos são para investimento em infra-estrutura e câmbio fixo para exportação de produtos agropecuários. "É um mecanismo utilizado em outros países e permite a manutenção da renda do produtor, cuja produção tem os preços formados no mercado internacional", defenderam. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Homero Alves Pereira, liderou o grupo na reunião.

Alertado por sua assessoria sobre o tom negativo de sua declaração, Rodrigues, que no primeiro encontro com os jornalistas disse que estava com pressa, voltou para um dos auditórios do ministério para esclarecer a situação. Aparentemente mais calmo, ele disse que as reivindicações dos produtores rurais são conhecidas e ele vem negociando com o governo medidas de apoio ao setor. Ele classificou de "legítima" a manifestação dos produtores, pois tentam continuar na atividade.

Segundo Rodrigues, as medidas em discussão com a área econômica não beneficiarão apenas alguns produtores de determinadas regiões, mas serão mais amplas. Indagado sobre quais medidas estavam mais avançadas, ele disse: "Não vou falar mais nada. Voltei aqui para desmentir qualquer mal-entendido. Se essa palavra (impraticável) foi usada, foi por alguma correria. Isso não existe", disse o ministro. Ele admitiu, no entanto, que problemas relacionados à logística, portos, infra-estrutura e estradas demandam mais tempo para que o governo possa solucioná-los.