Título: Credores aprovam divisão da Varig
Autor: Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/05/2006, Economia & Negócios, p. B14

Depois de uma longa crise e várias tentativas frustradas de negociação, os credores da Varig tomaram ontem uma decisão histórica. Mais de 700 pessoas lotaram um hangar no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, em um cenário muito parecido com o dos protestos pela quebra da Panair, nos anos 60, e aprovaram o plano de venda da Varig.

Os credores deram sinal verde para a venda total da empresa ou em duas partes, uma de operações domésticas e outra internacional. Caso seja vendida em partes, a marca Varig, com 79 anos de história, poderá desaparecer, já que caberá ao comprador decidir se a usará, se vai extingui-la ou se fará uma associação de bandeiras. Demissões só serão decididas após o leilão de venda, em 60 dias.

A atual administração da Varig será trocada em dez dias, revelou ontem Marcelo Gomes, diretor da consultoria Alvarez & Marsal, responsável pelo processo de recuperação da empresa. "Serão profissionais do mercado", afirma Gomes. Ele mesmo é cotado para substituir o atual presidente, Marcelo Bottini. Mas outro nome, relata uma fonte próxima às negociações, está no páreo: o ex-presidente da Varig, Manuel Guedes, que negou a sondagem.

O prazo para a mudança de direção respeita o tempo necessário para a criação do principal meio de reestruturação acionária da Varig, que é o Fundo de Investimento em Participações (FIP) Controle. Esse fundo vai distribuir cotas de investimento aos credores interessados em trocar dívida por participação acionária na empresa.

O FIP Controle vai receber 87% das ações da Fundação Ruben Berta (FRB), atual dona da Varig. Com a transferência, a Fundação Ruben Berta deixa de ser a controladora. A Varig será oferecida em leilão ao mercado nos próximos 60 dias de duas formas. Os credores poderão usar seus créditos no FIP Controle para fazer ofertas.

Na primeira, batizada de Varig operacional, ela poderá ser arrematada em leilão judicial com as rotas nacionais e internacionais, pelo preço mínimo de US$ 860 milhões. Nessa hipótese, prevê-se ainda a separação da parte comercial, chamada de "Varig relacionamento", que inclui toda a parte de serviços (aeroportuários, Smiles, suporte técnico) e que herdará o passivo de R$ 7 bilhões, segundo consta nos autos da recuperação judicial. Essa proposta foi elaborada pelas associações de Trabalhadores do Grupo Varig.

Outra forma de comprar a Varig , elaborada pela Alvarez & Marsal, é assumir apenas suas rotas domésticas. Conhecida como Varig regional, essa proposta, avaliada em no mínimo US$ 700 milhões, inclui a criação de uma empresa voltada apenas para a operação internacional, que assumiria as dívidas, mas que poderia ser negociada numa segunda etapa. Este modelo só será considerado no leilão caso não haja oferta pela operação integral ou se um investidor oferecer mais pela parte doméstica do que pela operacional.

O BNDES vai emprestar US$ 100 milhões ao investidor que tiver interesse na Varig, o que corresponde a 14,29% do preço da Varig operacional e 11,63% da regional. Ontem, Gomes chegou a dizer que o banco divulgaria a forma da operação "em 24 horas", mas o BNDES afirmou que precisa estudar a proposta, o que exige mais tempo. "O apoio do governo é importante por meio do BNDES", afirmou Gomes.