Título: Ele sabe tudo, mas não vê nada
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Nacional, p. A4

O relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), demonstrou certa reticência com a reconvocação de Dantas. Para ele, é preciso evitar a repetição de situações como a da última quarta-feira, quando o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira compareceu à comissão e não confirmou o que dissera em entrevista a O Globo. "Os membros da CPI estão ficando impacientes. As pessoas denunciam na imprensa e na CPI não dizem nada."

A cautela do relator é acompanhada pelo líder da minoria, senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "É preciso ter cuidado e avaliar bem as informações, porque pode estar ocorrendo a estratégia do blefe", diz. Nas duas entrevistas recentes que deu, à Veja e à Folha de S. Paulo, um astucioso Dantas justificou esses temores: as situações comprometedoras mencionadas por ele foram sempre vividas por outras pessoas e depois relatadas a ele, que não teve nenhum comprometimento direto.

À Veja, Dantas disse que o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares pediu entre US$ 40 milhões e US$ 50 milhões a Carlos Rodenburg, então seu cunhado - e não a ele próprio. Na reportagem da Folha de S. Paulo, publicada ontem, Dantas conta que, abordado por Delúbio, Rodenburg "teria entendido" ("Eu não sei se Delúbio disse ou não", afirma Dantas) que o pedido estaria engatado à oferta de facilidades do governo. Ele não embarca na tese da extorsão, mas não desmente o pedido, sobre o qual só ouviu falar.

Ocorre que na Justiça norte-americana seus advogados o retratam como perseguido pelo governo Lula por não ter dado o dinheiro. É bem diferente do que o próprio Dantas sustentou há sete meses, quando depôs em sessão conjunta de CPIs e negou categoricamente a extorsão.

Sobre as supostas contas no exterior de cardeais petistas, a última versão de Dantas é de que alguém que ele não nomeia lhe teria contado sobre elas. "Não dei a menor credibilidade", diz, com aparente generosidade. Ele também diz não ter os documentos nem os ter repassado.

Apesar disso, Dantas "tinha a sensação" de que havia corrupção no governo. Mas também não se importou: "As contas não tinham nada a ver com a disputa societária (envolvendo o Opportunity)." Com tantas idas e vindas, quem pode adivinhar o que de fato Dantas dirá se for à CPI?