Título: Governo decide atacar 'Veja' e poupar banqueiro
Autor: Ana Paula Scinocca e Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Nacional, p. A5

Sob fogo cerrado mais uma vez, o governo decidiu sair atirando, mas escolheu com extrema cautela o seu alvo. A ordem é poupar o banqueiro Daniel Dantas e centrar o ataque na revista Veja. No fim de semana, a revista publicou uma lista que teria sido produzida a mando de Dantas, com supostas contas bancárias mantidas no exterior por políticos, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O governo opera com a expectativa de que o material divulgado até aqui seja apenas uma amostra do arsenal de informações guardado por Dantas. Ele teria bem mais do que mostrou, revelam pessoas que o conhecem. O governo receia que ele já tenha entregue à revista um dossiê capaz de perturbar a reeleição de Lula.

ESGOTAMENTO

Ontem o diretor de redação de Veja, Eurípedes Alcântara, informou ao Estado que a revista esgotou suas possibilidades de investigação das supostas contas bancárias. "Ninguém sabe do que o Daniel Dantas é capaz", afirmou um petista ligado ao ex-ministro José Dirceu.

Pessoas próximas a Dantas, ouvidas ontem pelo Estado, disseram que seus arsenais de informação atingiriam frontalmente os ex-ministros Dirceu e Luiz Gushiken, além de "alguns peixes menores", mas não chegariam diretamente ao presidente Lula.

O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, informou que o governo vai avaliar hoje quais medidas serão tomadas contra a revista. A mesma linha será adotada pelo PT, que vai aproveitar a reunião de sua comissão política, marcada também para hoje, para definir a estratégia que será seguida nos próximos dias.

"O presidente Lula informou que vai tomar todas as medidas legais e legítimas contra uma matéria que é caluniosa, difamatória e construída de forma arbitrária pela revista para atacar, sem nenhum fundamento, a honra do presidente da República", disse Tarso, ontem à tarde, de Porto Alegre.

A reportagem que indica dirigentes petistas com dinheiro depositado em paraísos fiscais - entre eles os ex-ministros Dirceu, Gushiken e Antonio Palocci - assustou petistas durante o fim de semana. Dirigentes do PT mantiveram contato e trocaram informações para afinar o discurso.

Dantas voltou a ser uma preocupação para o governo na semana passada. Numa sessão da CPI dos Bingos, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) leu um documento entregue à Justiça americana pelo Opportunity, no qual o banco de Dantas alega ter sofrido perseguições do governo Lula por recusar pedidos de propina de "dezenas de milhões de dólares" feitos por petistas em 2002 e 2003. À Veja, em breve entrevista, Dantas revelou que o ex-tesoureiro Delúbio Soares lhe pediu uma propina entre US$ 40 e US$ 50 milhões.