Título: FMI entra em período de poupança e corte de gastos
Autor: Rolf Kuntz
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Economia & Negócios, p. B4

Países, entre eles o Brasil, anteciparam pagamento de dívida e deixaram organização em aperto financeiro

O Fundo Monetário Internacional (FMI) inicia hoje a Reunião de Primavera enfrentando uma situação peculiar. A instituição especializada em dispensar sabedoria sobre a boa administração econômico-financeira dos 189 países membros e a socorrê-los financeiramente em momentos de crise, está, hoje, com uma dúzia de clientes e a menor quantidade de créditos desembolsados (US$ 35 bilhões) nos últimos 25 anos. Com a economia mundial navegando em céu de brigadeiro e crescendo 4% em média 4% desde 2003, o Fundo passa por uma espécie de crise financeira e existencial.

A decisão de Brasil, Rússia, Argentina e de 10 outros países de pagar antecipadamente o que deviam ao Fundo nos últimos 18 meses, deixou a organização num aperto financeiro potencial para pagar os salários de 2.600 funcionários e custear as despesas administrativas dos dois prédios de um quarteirão de área cada um que ocupa no centro de Washington - um dos quais recém-inaugurado.

Na ausência de acidentes que forcem países de porte a buscar o socorro do FMI e voltar a pagar as taxas sobre empréstimos, que sustentam o orçamento anual de US$ 876 milhões, a organização operará tecnicamente no vermelho nos próximos três anos e terá de sacar cerca de US$ 600 milhões de suas reservas de US$ 9 bilhões para compensar o declínio de receita. A ordem interna aos funcionários é cortar gastos, reduzir a duração das missões e fazer mais com menos.

REFORMA

A situação financeira delicada é o pano de fundo da ambiciosa proposta de reforma e redefinição da missão do FMI, que seu diretor-gerente, o espanhol Rodrigo de Rato, levou à discussão entre os ministros das finanças e presidentes de bancos centrais do Conselho Financeiro e Monetário Internacional, o órgão máximo da instituição.

"O Fundo já passou por situações semelhantes na época de sua fundação e nos anos 70", disse o economista Edwin "Ted" Truman, ex-diretor internacional do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), e ex-secretário adjunto do Tesouro para assuntos internacionais. "Uma saída seria cobrar uma taxa anual dos países membros, independentemente do uso que façam do Fundo; outra seria vender uma parte de suas reservas de ouro e investir num fundo que produza um retorno suficiente para cobrir as despesas." O Banco Mundial e do Banco Interamericano de Desenvolvimento não têm o mesmo problema. Cobram taxas de serviço sobre os empréstimos que levantam no mercado de capitais e repassam aos países membros.