Título: OMC empurra de novo decisão sobre Doha
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Economia & Negócios, p. B3

Ficou claro que divergências entre países quanto ao corte de tarifas não seriam superadas até o final do mês

A Organização Mundial do Comércio (OMC) desiste oficialmente de tentar cumprir o prazo estabelecido pelos governos de final de abril para chegar a um acordo sobre como deveria ocorrer o corte de tarifas para a importação de produtos agrícolas e industriais.

Ontem, em Genebra, ficou claro que os países não conseguiriam superar suas diferenças antes do final do mês. A conferência ministerial que estava agendada para cumprir esse objetivo também foi cancelada, apesar da insistência de Brasil e Japão para que ocorresse.

Em dezembro do ano passado, os ministros dos mais de 140 países da OMC se reuniram em Hong Kong exatamente para fechar um acordo sobre como seria realizado o corte de tarifas. Mas diante da oposição dos europeus a qualquer tipo de entendimento que envolvesse uma maior abertura de seu mercado, o processo fracassou. O encontro na Ásia acabou servindo apenas para que se estabelecesse a data de 2013 como o prazo final para a eliminação de subsídios à exportação.

Os governos, na época, optaram por adiar as decisões quanto às tarifas para abril, confiantes de que usariam os quatro meses extras para aproximar suas posições negociadoras. Mas mais uma vez, a OMC perde o prazo estabelecido por ela mesmo. Agora, o compromisso dos governos é para que todos trabalhem até julho para tentar superar as diferenças e, então, fechar o acordo.

A OMC teria outros seis meses para concluir os demais pontos da negociação e, assim, encerrar a Rodada de Doha iniciada em 2001 até o final do ano.

Para muitos diplomatas, se a OMC não concluir a negociação até dezembro, o processo seria reiniciado apenas em 2009. Isso porque termina no próximo ano a autorização que o Congresso americano dá à Casa Branca para negociar acordos comerciais. Um novo mandato seria aprovado apenas em dois anos. Segundo analistas, a interrupção das negociações por tanto tempo teria impactos negativos para as exportações dos países emergentes e mesmo para a economia mundial.

Quanto ao encontro de ministros que já estava programado para ocorrer em duas semanas, a OMC foi obrigada a rever seu calendário. Os europeus indicaram que não haveria razão para um encontro dessa natureza se não fosse para tomar decisões. Para o Brasil, o que Bruxelas quer é esvaziar ao máximo qualquer possibilidade de um entendimento sobre a abertura dos mercados agrícolas.

Expansão da exportação agrícola do País está no fim

O ciclo de expansão das exportações agrícolas do Brasil chegará a um limite em 2006. A avaliação é da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que estima que o País não conseguirá repetir neste ano o desempenho de 2005. "O ciclo virtuoso da agricultura brasileira está chegando ao fim", disse Antonio Donizeti Beraldo, chefe do Departamento de Comércio Exterior da CNA.

Brasil exportou US$ 43 bilhões em produtos do agronegócio em 2005, de um total de US$ 118 bilhões. As importações agrícolas chegaram a US$ 5 bilhões. Para 2006, porém, o superávit que foi de US$ 38 bilhões no setor, deve ser reduzido em US$ 1 bilhão. Isso porque as importações devem aumentar em 20%, chegando a US$ 6 bilhões, principalmente as de trigo e de milho. Os motivos para a queda são pelo menos três: o valorização do real, a estiagem dos últimos dois anos e a queda no preço internacional de algumas commodities. Há dois anos, o País exportava soja, por exemplo, a US$ 280 a tonelada, com dólar cotado a R$ 2,8. Hoje, o preço internacional caiu para US$ 220 enquanto o dólar vale só R$ 2,2. "O volume de exportações pode até aumentar, mas o valor arrecadado será menor."

Pelas projeções do setor, as exportações de soja chegarão a US$ 8,5 bilhões em 2006, ante mais de US$ 10 bilhões em 2005. Há ainda a gripe aviária, que freou as exportações de frango. Para Beraldo, o limite só será superado se questões estruturais, como infra-estrutura, forem solucionadas.