Título: Abbas amplia confronto com o Hamas
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Internacional, p. A12

Presidente palestino cancelou nomeação de extremista para alto cargo

A crise de governabilidade na Autoridade Palestina (AP), a entidade que governa as áreas autônomas palestinas, aprofundou-se ontem com a decisão do presidente Mahmud Abbas de rejeitar a nomeação de Jamal Abu Samhadana para o posto de inspetor-geral do Ministério do Interior.

Sa mhadana é líder do grupo Comitês de Resistência Popular, responsável por boa parte dos foguetes lançados da Faixa de Gaza contra o território israelense. Em resposta, Israel tem bombardeado a região nas últimas semanas. Samhadana disse que pretende continuar à frente dos comitês e garantiu que o primeiro-ministro Ismail Haniye, do Hamas, nunca lhe pediu que interrompesse os ataques a Israel. Os militares israelenses mantém Samhadana em sua lista de alvos prioritários.

Um decreto de Abbas, enviado a Haniye, cancelou a nomeação de Samhadana. mas um porta-voz do Hamas disse que o grupo mantém a decisão e buscará o diálogo com Abbas.

Ontem também, a facção Fatah acusou o líder do Hamas no exílio, Khaled Meshaal, de tentar provocar uma guerra civil. Num evento em Damasco, Meshaal disse que Abbas tem apoiado a campanha do Ocidente para isolar o Hamas.

Abbas é líder da facção Fatah, rival do Hamas, que venceu as eleições parlamentares de janeiro e tomou posse no dia 28. Como presidente da Autoridade Palestina, Abbas controla as forças de segurança, integradas por membros ou simpatizantes da Fatah.

Tentando ampliar seu poder, o novo ministro do Interior Said Siam - um destacado líder do Hamas - anunciou na quinta-feira a criação de uma nova força de segurança formada por militantes palestinos. Além disso, nomeou Samhadana para o posto de inspetor-geral do ministério, deixando sob sua incumbência a supervisão das várias unidades da segurança.

"O presidente Abbas considera a decisão do ministro do interior ilegal e anticonstitucional", disse um assessor dele, Tayeb Abdel-Rahim, em Ramallah, na Cisjordânia, referindo-se à nova força. A Autoridade Palestina não tem de fato uma Constituição, apenas leis básicas, muitas vezes vagas. Mas Abbas tem poder de vetar nomeações ou até dissolver o governo.

A Autoridade Palestina foi criada como resultado dos acordos de paz de Oslo (1993), pelos quais a Organização de Libertação da Palestina (OLP) reconheceu a existência de Israel e renunciou à luta armada. No entanto, o Hamas não aceita esses acordos e se recusa a desarmar-se ou a agir contra os extremistas que desfecham atentados suicidas em Israel. Quando a Fatah estava à frente do governo também não agiu contra os grupos responsáveis por atentados ou lançamento de foguetes.

A crise palestina é agravada pelo boicote financeiro dos EUA e da União Européia ao governo do Hamas. Cerca de 150 mil funcionários públicos não recebem seus salários há mais de três semanas, o que aumenta a tensão nos territórios.