Título: Gabeira: "Câmara está promovendo suicídio institucional"
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Nacional, p. A7

Para o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), a Câmara está cometendo "um suicídio institucional" ao patrocinar a absolvição de 9 deputados acusados de envolvimento com o mensalão. Ao Estado, Gabeira defendeu ainda o fim do voto secreto na Câmara.

Como fica a imagem da Câmara com as absolvições?

Arrasada. A Câmara se comportou como um grupo de Jim Jones, que está promovendo o suicídio institucional. O nível de aceitação da Câmara hoje é de apenas 17% da população. Isso nos coloca muito próximos de uma situação até de perigo à base democrática.

O comportamento da Câmara de absolver parlamentares envolvidos em irregularidades vai ter reflexos nas eleições de outubro?

Será muito sentido. Teremos uma renovação da Câmara que necessariamente não significa melhoria. Mas é uma renovação. Também haverá um movimento muito forte pelo voto nulo. Essas duas reações expressam o desencanto com a Câmara.

A bancada dos partidos governistas, principalmente o PT, vai sofrer redução nas eleições?

Existe nas pesquisas uma indicação de que se condena mais o PT do que o presidente Lula. Muito possivelmente isso vai repercutir na votação dos deputados do PT. Acredito que aqueles deputados que dependem de máquina partidária e de uma estrutura assistencialista não vão ser atingidos. Agora, a população pensa: já que todos são iguais, vou votar naquele que me dá melhores condições.

Se o voto para cassar o mandato dos deputados acusados de envolvimento com o mensalão fosse aberto o resultado seria o mesmo? Seriam 9 absolvições?

Não. Eles não teriam coragem de enfrentar a opinião pública. Existem no parlamento duas tendências. Uma é aprovar a emenda constitucional garantindo o voto aberto. A outra é mandar ao Judiciário a decisão sobre os deputados. Cada tendência tem suas vantagens e desvantagens. A desvantagem de mandar para o Judiciário é o tempo do processo.

Existiam provas para cassar os 9 deputados? O Conselho de Ética agiu politicamente?

Em todos os casos havia indicações. Não me baseei apenas no Conselho de Ética, mas nos relatórios da CPI dos Correios e no do procurador-geral da República (Antonio Fernando de Souza).