Título: Devanir: "Não teve prova para cassar nenhum dos deputados"
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Nacional, p. A7

Deputado federal de primeiro mandato, o petista Devanir Ribeiro (SP) não teme ser punido nas urnas por ter saído em defesa de parlamentares envolvidos com o mensalão. Devanir acusa o Conselho de Ética da Câmara de parcialidade e de ter tratado situações diferentes de maneira igual ao propor a cassação dos parlamentares.

Que lição pode se tirar a partir das nove absolvições de deputados envolvidos com irregularidades?

O Conselho Ética chamou para si uma responsabilidade que não tem. O plenário votou contra as cassações porque o conselho tratou todos iguais, quando os casos são diferentes. O plenário apenas está respondendo que não acata os pareceres do conselho. Nós julgamos com a nossa consciência.

O conselho se baseou em provas para pedir a cassação.

Não teve prova para cassar nenhum dos nove deputados. O conselho apresentou relatório, mas o plenário é soberano. O conselho é restrito a 15 deputados. Além disso, o conselho já tinha uma pré-determinação para pedir a cassação. Tanto é assim que membros do conselho foram trocados quando houve interesse.

O resultado seria diferente caso o voto fosse aberto e não secreto?

Não posso trabalhar no terreno das hipóteses. Já participei de outras casas legislativas em que o voto é aberto e nem sempre se puniu. O voto fechado é o mais democrático que existe porque é um voto de consciência. O voto aberto pode ser um voto em que a bancada fecha questão e o parlamentar é vigiado. Não pelo eleitor, mas pelo seu líder ou pelos seus pares. Se o voto é fechado, ele vota com a consciência. O partido pode ir para um lado e ele pender para outro.

Essas absolvições terão reflexo nas eleições de outubro?

Acho que sim, apesar de a política ser muito dinâmica. Existem casos de presidentes de comissões de inquérito que fizeram palanque na CPI com a vida alheia e não conseguiram se eleger. De repente fico fazendo palanque aqui e meu eleitor diz que não fui eleito para isso, para ser advogado, policial, promotor. Nós viemos aqui para legislar.

O fato de ser contra a cassação terá reflexos na sua reeleição?

Posso até perder voto. Mas cada eleição é uma eleição. Se o povo reconhece que o governo é bom, eu saio ganhando. Mas posso não tirar proveito. O povo sabe separar o governo do parlamentar.