Título: Fala de Bastos só reforça suspeita, dizem senadores
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Nacional, p. A6

Para oposicionistas, tese de que ministro ajudou Palocci ganhou força após seu depoimento na Câmara e ida ao Senado não está descartada

Em vez de esgotar o assunto, como esperava o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), senadores da oposição acreditam que o depoimento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na Câmara aumentou as suspeitas de que ele ajudou a montar o acobertamento do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na violação da conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo.

Para Jefferson Péres (PDT-AM), faltou Bastos explicar por que acompanhou o criminalista Arnaldo Malheiros à casa de Palocci. "Indicar um advogado amigo, tudo bem, é normal", disse. "Agora, acompanhá-lo na conversa com o cliente reforça a suspeita de que o ministro participou da estratégia de defesa. Aí, ele exorbitou."

Péres apontou esta e outras "lacunas" não questionadas pelos deputados na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) como motivo para Bastos depor no plenário do Senado.

O senador disse não saber se é real a segurança demonstrada pelo ministro na CCJ, depois de ter visto a mesma performance nas negativas do próprio Palocci, do ex-ministro José Dirceu e do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. "Todos eles foram muito firmes na negativa, derrubada pouco depois por documentos e testemunhas."

O pedido do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), para o ministro falar no Senado só será votado depois das duas medidas provisórias que trancaram a pauta. Para ele, Bastos, "em vez de cumprir com o papel de ministro, teria procurado defender envolvidos em atividades que ferem os princípios constitucionais". O líder acha que a ida ao Senado será "a chance de o ministro defender-se".

Para o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), além de não dar explicações convincentes, o depoimento de Thomaz Bastos na Câmara foi tumultuado. O que, acredita, deixou a sociedade sem respostas. "Os senadores têm, portanto, obrigação de questioná-lo o quanto antes", defendeu. "Ele tem demonstrado ser um excelente advogado e um ministro da Justiça ausente, não tem se ocupado da pasta, tem sido um criminalista a serviço de Lula e de seu governo."

MATTOSO

Se dependesse do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), Bastos seria ouvido pelo Senado depois do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso. Caso contrário, prevê que o ministro vai insistir no que disse na Câmara, apesar da "atitude comprometedora" que teve no episódio. "Ele passou a ser o protetor do investigado e a Polícia Federal está sob sua subordinação." Na avaliação de Dias, o fato de Mattoso ter sido indiciado, estar "sujeito a uma condenação", pode comprometer os argumentos de Bastos.

Para o líder do PFL, José Agripino Maia (RN), o ministro deixou uma série de indagações no depoimento. "Não disse por que, depois de o fato ter sido divulgado, o governo se mobilizou para defender Palocci", apontou. Na sua opinião, criminalista como é, Bastos não poderia se enganar quanto ao envolvimento de Palocci e Mattoso.

"Ele é o ministro da Justiça ou o advogado criminalista do PT?", questionou. Agripino disse que foi também o ministro quem trouxe Arnaldo Malheiros para defender Delúbio Soares e o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. O que, argumentou, o torna "um reincidente pago com dinheiro público e envolvido em más causas".