Título: Gabrielli ataca privatizações do governo tucano
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 22/04/2006, Nacional, p. A4,5

Executivo abandona distanciamento político para fazer críticas a FHC

O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, abandonou ontem o tradicional distanciamento de questões políticas que adotou desde que passou a integrar a direção da estatal para fazer uma crítica direta ao governo Fernando Henrique Cardoso. Durante a cerimônia de celebração pela conquista da auto-suficiência, sem citar o tucano, ele fez um discurso contundente, afirmando que o avanço só foi possível porque a empresa não entrou no programa de privatizações.

Logo depois de destacar o esforço tecnológico para a obtenção da auto-suficiência, o executivo afirmou: "Foi obtido (o nível de auto-suficiência) também com o trabalho, o talento e a luta do povo brasileiro, que nunca aceitou que se colocasse o nome da Petrobrás no balcão das privatizações que tirou das mãos da União grandes empresas de importância estratégica para nosso País." Depois, em entrevista na saída do evento, voltou à carga, afirmando que a Petrobrás "estava sendo fatiada para ser vendida" e, se isso tivesse se concretizado, o País não estaria na situação favorável atual. Gabrielli criticou, ainda, a venda da Companhia Vale do Rio Doce "por um preço menor do que valia".

Ao fazer as críticas ao programa de privatizações, Gabrielli arrancou aplausos dos cerca de 300 convidados presentes à festa, no Museu Histórico Nacional. A platéia era formada por dirigentes e funcionários da estatal, representantes de empresas de petróleo e alguns políticos da ala governista. Gabrielli recheou seu discurso com elogios ao presidente Lula. "Vossa excelência se tornará um marco nas condições de melhoria do povo brasileiro", disse. Lula estava entre amigos. Foi poupado até da oposição da governadora do Rio, Rosinha Garotinho, que não compareceu ao evento e enviou o secretário de Energia, Wagner Victer, para representá-la.

Gabrielli continuou no mesmo tom, do início ao fim, declarando que o atual grau de eficiência da empresa se deve "ao suor e ao talento" de seus funcionários. "Essa pode ser a lição da Petrobrás ao Brasil e do Brasil ao mundo", disse, após afirmar que a conquista deve lembrar a imagem que o futebol brasileiro tem no exterior. "O respeito que a conquista de cinco Copas impõe a nossos adversários. Orgulho e respeito são palavras que podem ser bem utilizadas tanto para falar do futebol quanto do povo brasileiro."