Título: Mudança na lei de imigração, uma esperança para todos
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2006, Metrópole, p. C1,3

Médico carioca que está há anos nos Estados Unidos acha pouco provável que sejam aprovadas modificações

O médico Eduardo Siqueira, um carioca especialista em segurança e saúde no trabalho da Universidade de Massachusetts, em Lowell, não é otimista quanto à reforma da lei de imigração este ano. "Estamos longe de um ponto de equilíbrio nessa discussão", diz Eduardo, que fez mestrado e doutorado nos Estados Unidos e dirige um projeto sobre segurança no trabalho em colaboração com o Centro do Imigrante Brasileiro. "Uma parte dos republicanos está delirando: acha que pode simplesmente fechar a fronteira com o México e tratar um problema social como caso de polícia - e isso, obviamente, não vai funcionar", diz. "Ao mesmo tempo, não vejo apoio suficiente na sociedade para a visão alternativa se impor. Diante disso, a discussão e a repressão vão continuar e as manifestações vão aumentar."

Para Eduardo, o empenho que os brasileiros vêm mostrando em proteger seus interesses reflete uma evolução natural de um grupo relativamente recente no país. "A questão central da imigração nos EUA envolve mexicanos e, em segundo lugar, centro-americanos." Segundo ele, "estão tentando mobilizar os brasileiros, mas não está claro como eles responderão".

A dúvida é ilustrada pelas decisões divergentes tomadas pelos donos dos três Cafés Belô, em Somerville e Allston, e pelo restaurante Sal & Brasa, em Everett. Os três cafés abrirão, a despeito da opinião de Nilton Cruz, gerente de um deles, em Allston. "Seria boa idéia para dar uma mensagem, mas a ordem aqui é trabalhar", diz. Já o Sal & Brasa dará descanso coletivo a cozinheiros e garçons.

UM QUINTO

Embora não haja dados confiáveis a respeito, alguns números indicam que o interesse dos brasucas pelo debate reflete a tomada de consciência sobre sua importância crescente em Massachusetts. O último censo mostrou, por exemplo, que um em cada cinco imigrantes que chegaram nos últimos anos é brasileiro. Levantamentos de vendas de imóveis indicam que brasileiros estão se tornando proprietários, construindo um patrimônio e tendo, portanto, o que defender. Dados da prefeitura de Boston mostram que só os 8 mil imigrantes que vivem legalmente na cidade movimentam mais de US$ 140 milhões no Estado.

É elucidativa a adesão à campanha pela legalização dos indocumentados por dois dos mais bem-sucedidos pequenos empresários brasileiros em Framingham, cidade industrial decadente cujo centro foi revitalizado nos últimos 15 anos graças a investimentos de brasileiros.

No ano passado, o goiano Pablo Maia, de 46 anos, vendeu mais de US$ 70 milhões em casas para brasileiros. Ex-imigrante ilegal, da safra dos anos 80, cumpriu a dura trajetória dos ilegais até se dar conta de que os brasileiros melhoraram de vida e já podem comprar casas. Apostou no ramo imobiliário e deu-se bem. Tão bem que vai alugar mais salas para a firma, que emprega uma vintena de pessoas - todos brasileiros, quase todos indocumentados.

A mineira Vera Dias Freitas é dona de uma joalheria - a Vera Jewelers - com o marido, o goiano João Paulo Freitas. É também a ativista da família. Membro da diretoria da Câmara de Comércio, exibe na parede um diploma da Câmara Municipal de Framigham por serviços prestados à comunidade. Na semana passada, ela e Fausto Mendes da Rocha, do Centro do Imigrante, acertaram a mobilização do dia 1º. Umas das discussões foi sobre como aproveitar um saldo credor de quase US$ 800,00 que Vera tinha na Globo Internacional para financiar anúncios pela greve. "É preciso dar chance para as pessoas prosperarem", disse ela. "Em poucos anos veremos políticos de origem brasileira nos governos da Grande Boston."