Título: Universidades brasileiras dão origem a empresas de biotecnologia
Autor: Renato Cruz
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2006, Economia & Negócios, p. B8

Setor movimentou 2,8% do Produto Interno Bruto brasileiro em 2001, com grande potencial de crescimento

Criada em 2002 por biólogos da Universidade de São Paulo (USP), a Exon desenvolveu um teste para descobrir o sexo das aves pela casca do ovo, analisando seu material genético. Integrante do Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (Cietec), localizado na USP, em São Paulo, a Exon é uma das pequenas empresas de biotecnologia que surgiram da universidade brasileira. No ano passado, faturou R$ 310 mil, três vezes o que havia conseguido no ano anterior. Para este ano, a previsão é de faturar R$ 500 mil.

A biotecnologia é o conjunto de tecnologias que permite usar células e moléculas biológicas para produção de bens e serviços em saúde humana e animal, agricultura e manejo do meio ambiente. Em 2001, gerou 2,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do País, segundo estudo da Fundação Biominas e do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT). Havia 354 empresas no setor, sendo 42% em São Paulo e 29% em Minas Gerais. As Regiões Sudeste e Sul concentravam 90% das empresas, enquanto Norte e Nordeste contavam com apenas 5%. Com a biodiversidade e a força do agronegócio brasileiros, a biotecnologia é bastante promissora.

"No Cietec é a área que mais cresce", afirmou Sérgio Risola, gerente-executivo da incubadora, que conta com 27 empresas do setor, entre 109 incubadas. "O próprio governo brasileiro elegeu a biotecnologia como um dos pilares de crescimento." As empresas de biotecnologia, medicina e saúde do Cietec faturaram R$ 11,486 milhões em 2005 e a expectativa para este ano é atingir R$ 27 milhões.

A Genética Aplicada, uma das empresas do Cietec, criou um banco de armazenamento de células-tronco e de DNA (sigla em inglês de ácido desoxirribonucléico) de animais e presta serviços para criadores de cavalos de corrida e gado de corte. Risola destacou que, no fim de 2003, os fundadores da empresa foram responsáveis pelo processo de clonagem que resultou no nascimento da vaca nelore Bela da USP.

Mas as incubadoras perceberam que os órgãos públicos não estão preparados para atender a empresas menores. A PRTrade, do Cietec, que produz fungicidas, teve dificuldade em atender às exigências da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para certificar seus produtos. "Os lotes experimentais exigidos são muito grandes para uma empresa que está começando", disse Risola.

Mês passado, o Cietec formou, ao lado da Fundação Biominas, de Minas Gerais, e Supera/Inbios, de Ribeirão Preto, a Rede de Empresas Incubadas de Base Biotecnológica. O objetivo é coordenar ações conjuntas das micro e pequenas empresas de biotecnologia para facilitar o acesso a financiamento, possibilitar projetos em parceria e induzir políticas públicas adequadas para o setor.

Criada há 16 anos, a Biominas, fundação privada especializada em biotecnologia, apóia 29 empresas, entre incubadas e associadas, e trabalha na estruturação de sete novos negócios. A Supera/Inbios conta com oito incubadas. Entre as atividades da rede, estão um seminário sobre biotecnologia, um concurso de plano de negócios e um sistema eletrônico de troca de informações entre as empresas. Em maio e junho, o Cietec irá receber visitas de delegações da Itália e da França, com empresários de incubadoras. "Vamos participar de feiras no Brasil e criar consórcios para a exportação", afirmou Risola. "Temos de buscar negócios."

A Biosintesis, do Cietec, realiza testes pré-clínicos para a indústria farmacêutica, agroquímica e de cosméticos. Os ensaios analisam o potencial de intoxicação de uma substância sobre células, genes e sistemas neurológico e imunológico, para saber se ela é prejudicial a animais, vegetais e humanos.

A empresa foi fundada por Fabiana Medeiros da Silva, de 31 anos, bióloga mestre em toxicologia. Ela passou por um período de dois anos em pré-incubação e, há seis meses, tornou-se incubada. Começou com trabalhos de consultoria para ensaios na área de neurotoxicidade. "Hoje já somos sete pessoas", disse a diretora de Desenvolvimento de Negócios da Biosintesis, Vanessa Borelli. "Trouxemos para o cenário nacional testes disponíveis apenas fora do País." O primeiro cliente foi o laboratório Tecam.

Até setembro, a Biosintesis planeja conseguir o ISO 9001, que garante a qualidade no atendimento ao cliente. Até o fim do ano que vem, se certificar junto à Anvisa e obter o ISO 17025, que garante a qualidade do laboratório. "Os nichos em que trabalhamos mais são indústria farmacêutica e fitoterápica", explicou Vanessa.

Outra empresa do Cietec, a Syngenic, trabalha na obtenção da albumina de soro bovino, essencial para pesquisas médicas e hoje importada. "O objetivo é diminuir custos sem perder qualidade", disse Sandra Mandowsky, diretora da Syngenic. A albumina tem diversas aplicações, como nutriente de cultura de células e matéria-prima para kits de diagnóstico. A empresa recebeu apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com R$ 100 mil em recursos, e submeteu um projeto ao Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Planeja desenvolver novas moléculas em parceria com pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, para tornar, por exemplo, alimentos mais saudáveis e desenvolver suplementos alimentares.