Título: Agora é o governo que não quer vender LFTs
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3

¿Na época da campanha eleitoral de 2002, o Tesouro não vendia LFTs porque não conseguia; agora, não vendemos porque preferimos vender outros papéis¿, diz o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antonio Gragnani, para demonstrar a tranqüilidade do governo na administração da dívida pública.

Corrigidas pela variação da taxa de juros Selic, atualmente em 15,75% ao ano, as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) são papéis de risco quase zero. Mesmo assim, no período pré-eleitoral de 2002, os investidores preferiam dólares. Agora, com a crise política e a campanha presidencial, o Tesouro se dá ao luxo de não vender mais LFTs. Os investidores têm de comprar papéis que custam mais barato ao Tesouro ¿ por exemplo, os corrigidos pela variação da inflação ou que têm a taxa de remuneração fixada na hora do leilão. Esses papéis prefixados são considerados melhores, porque tornam o custo da dívida mais previsível.

Além da turbulência pré-eleitoral, o que tornou o ano de 2002 infernal para a administração da dívida pública foi uma medida adotada pelo Banco Central chamada ¿marcação a mercado¿. Por ela, os fundos de investimento tiveram de contabilizar imediatamente perdas e ganhos decorrentes da variação do preço da carteira. Num quadro de crise, o que se viu na prática foram os fundos perdendo de 3% a 5% do valor em questão de dias. Os investidores, assustados, sacaram as aplicações e aprofundaram a crise.