Título: Telegramas registram tortura e execução de presos políticos, em SP
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Nacional, p. A10

No lote de telegramas confidenciais trocados pelos agentes de informação dos Estados Unidos, em 1973, existe o registro dos casos de tortura no Brasil. Telegrama de maio desse ano, com o título de Prisões Políticas e Tortura em São Paulo, afirma que o "interrogatório de prisioneiros políticos é geralmente acompanhado por tortura". São citados como instrumentos de tortura usados no País o "pau-de-arara (traduzido para o inglês como parrot's perch), choques elétricos, fome, etc.".

Para reforçar a história, são citadas informações repassadas por um político do MDB de São Paulo (não identificado no telegrama), candidato a vereador, que "foi preso depois das eleições municipais de novembro e mantido durante seis semanas num centro militar de interrogatórios (Oban)".

O político do MDB teria informado aos americanos, depois de liberado, que cerca de 60 prisioneiros políticos eram mantidos no centro de interrogatório, o que equivaleria à capacidade aproximada do local. "Muitos eram inteiramente envolvidos em atividades subversivas, mas outros aparentavam ser apenas idealistas políticos opostos ao regime", diz o documento. "Todos eram submetidos a alguma forma de tortura", acrescenta o texto, baseado no relato do político do MDB, que se exclui da lista de torturados, porque como era um "político com legitimidade e um homem com meios não era torturável".

Os americanos recorrem a outras fontes para falar sobre a tortura. Um deles, descrito como "informante profissional e interrogador trabalhando para o centro de inteligência militar em Osasco", falou sobre suas atividades. O texto diz que "ele explicou como tinha quebrado um aparelho comunista envolvendo um oficial da Polícia Civil". "O oficial foi persuadido a falar ao prenderem aparelhos de choque elétrico aos seus ouvidos e contou sobre sua conexão com uma namorada que foi prontamente presa. Ela não era cooperativa. Então, ela foi colocada no pau-de-arara por 43 horas sem comida ou água. Isso a quebrou, diz nosso informante. Tortura, de uma forma ou de outra, era uma prática comum de interrogatório em Osasco."

O informante admite, inclusive, participação na execução de prisioneiros. "Ele deu detalhes em primeira mão sobre a morte de um subversivo suspeito, que ele disse ter 'abotoado' atirando nele da cabeça até os pés com uma arma automática. Durante o ano passado, vários oficiais de segurança nos confirmaram que a morte de suspeitos de terrorismo era prática usual. Estimamos que provavelmente 12 tenham sido mortos na área de São Paulo."