Título: Atuação de d. Helder preocupava e irritava regime, mostram informes
Autor: Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Nacional, p. A10

Os arquivos americanos registram um grande lote de telegramas confidenciais referentes aos anos de 1973 e 1974 que já foram desclassificados. O Brasil é o assunto principal de vários desses documentos. Num deles, de novembro de 1973, os americanos fazem uma avaliação da atuação do então Arcebispo de Olinda e do Recife d. Hélder Câmara, ligado à ala mais progressista da Igreja Católica e cujas posições causavam grande desconforto aos representantes do regime militar. Em 1970, por exemplo, ele fez em Paris, na França, um forte pronunciamento, onde denunciava publicamente casos de tortura no Brasil.

O documento mostra que os americanos avaliavam que os militares brasileiros só "não tomaram uma atitude mais vigorosa contra ele porque não queriam transformá-lo num mártir". "A idéia de que sua indicação ao Prêmio Nobel da Paz pode ser considerada enfurece o governo", acrescenta o texto, numa referência à indicação que d. Hélder recebera para ganhar a honraria no ano anterior e fora torpedeada no circuito internacional pelo governo brasileiro.

"D. Hélder Pessoa Câmara é o mais falante e conhecido líder da ala mais progressiva da Igreja Católica Romana brasileira. Ele é um defensor dos pobres e dos oprimidos, especialmente no empobrecido Nordeste brasileiro. D. Helder é um vigoroso reformador que vê a Igreja como um legítimo agente para mudanças radicais e não violentas. Suas visões políticas talvez sejam mais bem descritas como socialistas, mas não comunistas", informa o telegrama.

"O arcebispo é certamente o mais controvertido clérigo no Brasil. Admiradores, referem-se a ele como a 'consciência do Brasil' e 'patrono dos pobres'. Detratores o chamam de 'demagogo', 'egoísta', 'auto-relações públicas' e 'comunista'. D. Helder tem grande apelo pessoal e usa isso efetivamente. Ele é grandemente demandado pelos liberais católicos para dar palestras nos Estados Unidos e na Europa. Nos últimos anos, ele tem sido freqüentemente mencionado como candidato para o Prêmio Nobel da Paz. Em algumas vezes, ele parecia estar procurando por isso", diz o informe.