Título: Cooperativismo avança 14% ao ano
Autor: Fabio Graner
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Economia & Negócios, p. B7

Quando for abrir, hoje, o Fórum Nacional sobre avanços, desafios e perspectivas das cooperativas de crédito, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá em mãos dados expressivos sobre o crescimento desse segmento no País: de dezembro de 2002 a agosto de 2005, o total de associados de cooperativas saltou de 1,6 milhão para 2,6 milhões, uma expansão de 43,3% no período e uma média anual de crescimento de 14,4% ao ano.

O dado consta de estudo do Banco Central sobre a evolução do cooperativismo de crédito no Brasil, que foi apresentado a Lula e será distribuído na abertura do evento.

Segundo o gerente da Unidade de Acesso a Serviços Financeiros do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) , Carlos Alberto dos Santos, o forte crescimento do número de pessoas que se financiam por meio das cooperativas é explicado pela melhora da legislação, que flexibilizou a formação de cooperativas.

Além disso, como as cooperativas se tornaram mais visíveis no período, a população está percebendo o sistema como alternativa bem mais barata de financiamento. "As cooperativas operam com custos muito inferiores aos da banca tradicional e isso as torna extremamente atraentes", afirmou Santos.

De acordo com o estudo do BC, com juros mais baixos, a tendência é que, ao se expandirem, as cooperativas estimulem a redução dos juros dos bancos. "É de se esperar que a chegada desses serviços a regiões menos favorecidas e o aumento da oferta em centros onde eles já estão disponíveis produzam, nos próximos anos, sensível redução nos spreads (diferença entre o que banco paga pelo dinheiro e o que cobra no empréstimo) das atividades de intermediação financeira, com inegáveis benefícios para toda a sociedade", diz o BC, no documento.

"A participação das cooperativas no Sistema Financeiro Nacional ainda é bastante reduzida, em torno de 3%", diz Santos. "Mesmo assim, a existência delas expõe os bancos à concorrência e à pergunta: Por que a cooperativa cobra mais barato? Isso induz a uma redução nas taxas de juros bancárias." Para ele, há bastante espaço ainda para as cooperativas avançarem em participação no crédito."Nos EUA, elas representam 10% do crédito total; na Alemanha, 18%; e em países como Itália e Espanha, mais de 25%", relatou.

O estudo do BC mostra que, apesar de o número de associados crescer fortemente nos últimos anos, a quantidade de cooperativas começou a diminuir a partir de 2004. Depois de ter atingido o pico em 2003, com 1.454 cooperativas, em agosto de 2005 o número estava em 1.435. Segundo o BC, isso decorre da resolução 3.106, de 2003, que estimulou as fusões e aquisições, a partir da permissão de se formar cooperativas de "livre admissão", em que qualquer pessoa pode participar.

"Apesar de aparentemente paradoxal, os dois movimentos (crescimento no total de cooperados e redução no total de cooperativas) são positivos. Havia uma pulverização muito grande e agora vê-se um processo de consolidação do setor", diz Santos.