Título: A reação policial: 23 mortos em 24h
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

A polícia partiu para o contra-ataque e acabou matando 23 bandidos no Estado nas últimas 24 horas. A reação de ontem aos atentados terroristas praticados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) pode ter causado mais baixas, pois representa o total até as 22 horas de ontem. Além disso, prendeu 82 suspeitos de participar dos crimes e apreendeu 97 armas. Se pela manhã, o governador Cláudio Lembo (PFL) disse que o governo estava recuperando o controle do Estado, à noite, o comandante-geral da PM, coronel Eliseu Eclair, foi mais longe: "Viramos o jogo."

A estratégia do governo na noite de anteontem foi convocar todos os policiais disponíveis para reforçar o patrulhamento das ruas e das unidades policiais. Só a PM pôs 88 carros da Rota na rua e 45 do 2º Batalhão de Choque. "A polícia não vai se acovardar", disse o coronel. A ordem era reagir aos ataques e impedir novas baixas entre a polícia. O Estado não negocia com bandido. Eles terão uma resposta à altura", afirmou Eclair.

O resultado disso é que diminuíram os ataques a delegacias e batalhões da PM - não houve nenhuma na capital ontem. Os bandidos mudaram de estratégia e passaram a concentrar os ataques a policiais sozinhos, bases da Guarda Civil Metropolitana, fóruns criminais e até bases da Polícia Rodoviária. No fim da tarde, passaram a atacar 28 ônibus e 2 agências bancárias e um posto de gasolina.

Em uma dessas ações, cinco bandidos foram mortos. Três são acusados de participar do ataque a uma base da Polícia Rodoviária Federal da Rodovia Régis Bittencourt. Houve confronto entre policiais e os criminosos, que conseguiram escapar, mas foram localizados por equipes das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota). Em novo tiroteio, os três morreram.

"Eles passaram minutos depois que a Rota esteve por aqui e seguiram na mesma direção. Foi então que trombaram com a Rota, no km 291", contou o inspetor da 4ª Delegacia da Polícia Rodoviária Federal, Celso Rodrigues. Os três estavam em um Classe A. Em outro confronto na rodovia, um casal morreu durante uma perseguição.

Em Praia Grande, litoral de São Paulo, a PM cercou 19 criminosos que se preparavam para atacar delegacias. Estavam armados e com drogas. Foram todos presos e acusados de tráfico de drogas, porte de armas e formação de quadrilha. Em Caraguatatuba, a PM achou 75 armas enterradas, de revólveres e submetralhadoras.

Em outra ação, dois criminosos jogaram uma granada e deram tiros no Fórum Regional de Santana, na zona norte de São Paulo. Não sabiam que nos fundos do prédio funciona a sede da Companhia de Força Tática do 18º Batalhão da PM. Os policiais perseguiram os criminosos e um deles morreu em tiroteio - o outro escapou.

PRESTIGIADOS

Ao mesmo tempo em que mobilizou a polícia para agir contra os atentados, o governador Lembo afastou a possibilidade de substituir os comandos das Polícias Civil e Militar e os secretários de Segurança, Saulo Abreu, e de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, como reivindicam a Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar, o Sindicato dos Investigadores do Estado e especialistas em segurança pública. "Não, de maneira nenhuma pretendo fazer substituições. Estou muito orgulhoso do trabalho de minhas policias Civil e Militar e dos secretários Saulo e Nagashi, que se portaram com muita segurança."

Lembo destacou que não vai aceitar a ajuda oferecida pelo governo federal para conter a onda de atentados. "Não pedirei ajuda a Polícia Federal, pois ela tem um efetivo muito mínimo em São Paulo. Se eles quiserem nos passar informações, serão bem aceitas. São Paulo não precisa da Polícia Federal. Ela deve ser respeitada, mas confio nas nossas polícias Civil e Militar."

O governador rechaçou ainda um pedido de ajuda do Exército. "Nós estamos com controle total da situação." Segundo ele, o Exército tem função constitucional definida de preservação da soberania nacional, e os atentados são uma questão de ordem interna. "O Exército poderia ajudar, controlando as fronteiras e combatendo o contrabando de armas que entram ilegalmente no País."

O governador contou que recebeu um telefonema da governadora Rosinha Garotinho, do Rio, oferecendo ajuda. Ele agradeceu. "Não se trata de uma questão de ajuda, mas de solidariedade."

Lembo voltou a defender a mudança da legislação penal. "A legislação brasileira não permite, por exemplo, a prisão na solitária, onde o detento fica fechado por dias ou meses. Na Itália, por exemplo, criou-se esse sistema com sucesso."