Título: Repercussão
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

Roberto Busato: O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) disse que o Estado não pode recuar na operação de isolamento dos líderes do PCC. "O mínimo que se exige, num momento como esse, é uma resposta à altura do agravo. O Estado não pode, sob nenhum argumento, recuar da operação que iniciou, de isolar as lideranças da facção criminosa", afirmou. Para Busato, o poder público "não pode tolerar desafios" e "deve mobilizar toda a sua estrutura de inteligência, envolvendo também o Poder Judiciário". "É preciso identificar e punir exemplarmente o comando dessas ações."

Alberto Zacharias Toron: Para o advogado criminalista, é preciso mais do que transferência de presos para combater o crime organizado. "Isso exige um trabalho de inteligência policial, para combater o mal pela raiz. Caso contrário, vamos continuar a ser vítimas de ataques como os que lamentavelmente ocorrem em São Paulo", disse. "É preciso combinar um trabalho de repressão propriamente dita com outro de inteligência. É preciso reagir de forma enérgica para que fique clara a posição do Estado."

Jorge Maurique: A culpa pelo preocupante nível de criminalidade no País não pode ser jogada apenas nas costas da Justiça, segundo o presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe). "Temos uma legislação muito caótica", explicou, referindo-se especificamente à regra que concede progressão de regime após o cumprimento de um sexto da pena. "O Congresso pode reagir com medidas duras, aumentando o prazo para progressão de regime." Maurique refutou a idéia de que "a polícia prende, mas a Justiça solta". "Se o inquérito ou o processo está mal feito, o juiz é obrigado a soltar o preso."

D. Geraldo Majella Agnelo: O cardeal de Salvador e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota manifestando, em nome da entidade, "veemente repúdio aos brutais e estarrecedores atos de violência planejados e praticados pelo crime organizado". "A CNBB expressa profundo pesar e solidariedade às famílias dos mortos, neste momento de grande dor e perda irreparável", escreveu d. Geraldo Majella. "Apoiamos a ação firme e sem violência, por parte das autoridades, no sentido de se proceder à imediata investigação dos fatos e punição dos culpados." O presidente da CNBB disse saber "do quanto o sistema judicial, penal e penitenciário carece de providências e reformas profundas em âmbito nacional" e que a Igreja "renova o compromisso de marcar presença humanitária e evangelizadora nos presídios, junto aos presos e funcionários".

Ítalo Cardoso: Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, o deputado estadual pelo PT considerou "uma tragédia" as mortes provocadas pelos ataques do PCC. "Há um descaso do governo do Estado e um descompasso do Poder Judiciário. A população está totalmente desamparada porque a polícia está tendo que se defender", argumentou. Em nota assinada também pelo deputado Luiz Eduardo Greenhalgh, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, e pelo vereador Beto Custódio, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal de São Paulo, o parlamentar considera que esses fatos "são resultado do sentimento de injustiça e de perda de legitimidade do Estado".

Romeu Tuma Júnior: O governo cometeu um "erro gravíssimo" ao permitir que os líderes do PCC viessem a São Paulo no fim de semana do Dia das Mães, na avaliação do deputado estadual e delegado da Polícia Civil. "Marcaram data, hora e local para a ação criminosa. E justamente num momento em que as cadeias estão cheias de visitas", criticou. O parlamentar cobrou medidas do governo em resposta à situação, como melhor comunicação entre as Secretarias da Segurança Pública e da Administração Penitenciária. "O Estado sabia que isso poderia ocorrer, mas não fez nada para evitar."

Ariel de Castro Alves: Em nota, o coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) lamentou as mortes ocorridas desde sexta-feira. "Os atos criminosos são reflexos de anos de descaso na área social, segurança pública e Justiça, principalmente a Lei de Execuções Penais, e de desrespeito aos direitos de presos, funcionários do sistema e agentes policiais", disse. "São causas complexas que não serão resolvidas em passe de mágica, e sim com trabalho sério."