Título: Governo federal pode intervir
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

Preocupado com a onda de violência promovida pelo crime organizado, o governo federal quer que as Forças Armadas sejam usadas para conter a ofensiva. Ao mesmo tempo, pôs em prontidão a Força Nacional, grupo formado por integrantes de elite de diversas organizações federais e estaduais.

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, considera o assunto tão grave que pretende discutir a situação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os principais colegas de ministério. Para tanto, deve aproveitar a reunião de hoje da coordenação política do Planalto, realizada às segundas-feiras.

Em questões de segurança pública, o governo federal só pode entrar em ação após solicitação dos Estados. A idéia de Bastos é conversar com os governadores de locais atingidos pela guerra aberta pelo crime organizado para definir um trabalho de parceria. No caso de São Paulo, o governador Cláudio Lembo (PFL) já recusou a ajuda oferecida, mas o governo crê que a decisão possa ser revista.

A ofensiva do crime organizado em São Paulo, aliás, atingiu uma instalação do governo federal: um posto da Polícia Rodoviária Federal na Rodovia Régis Bittencourt. O Ministério da Justiça vai reforçar os efetivos em todos os postos de São Paulo, com o deslocamento de homens que atuam no Paraná.

Bastos quer que a Polícia Federal (PF) dê apoio às polícias estaduais, principalmente na área de inteligência. Em vários Estados, a corporação já costuma colaborar com as atividades de monitoramento das ligações telefônicas entre bandidos presos e comparsas em liberdade. No Rio, essa colaboração tem caráter permanente.

Em junho, será inaugurado em Catanduvas (PR) o primeiro dos cinco presídios federais cuja conclusão foi prometida para até o fim do ano - meta que, já se sabe, não será atingida. A prisão paranaense terá capacidade para 200 detentos. Para lá também serão transferidos os principais comandantes do crime organizado.

Devem ser levados para Catanduvas o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, um dos líderes do comércio de drogas no Rio. Outro que pode ir para o primeiro presídio federal é Marcos Herbas Camacho, o Marcola, principal chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC).

Para trabalhar nos presídios federais, estão em treinamento agentes penitenciários nacionais. A primeira turma desses profissionais, com 200 alunos, será formada no dia 25.

CONGRESSO

Entre os deputados e senadores, também há preocupação e reações à onda de violência. O deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-SP), que era governador quando a polícia matou 111 presos no Carandiru, vai propor amanhã, na Comissão de Segurança Pública da Câmara, a criação de uma comissão externa para investigar a situação dos presídios e da segurança pública no Estado. O deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) disse que vai propor que a comissão cobre maior integração das políticas de segurança dos Estados, municípios e União.

Pré-candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) evitou ataques diretos ao governo do Estado. Disse ter críticas ao modelo de segurança adotado pela gestão tucana, mas insistiu que o momento não é propício a esse tipo de debate. "Há erros gravíssimos, mas a hora é de solidariedade aos policiais e suas famílias e de suporte para que a situação seja resolvida."

Para o senador Demóstenes Torres (PFL-GO), o que está acontecendo em São Paulo é reflexo de uma postura muito branda, tanto da legislação como das autoridades brasileiras, para com os condenados. "A verdade é que o crime compensa no Brasil, porque ninguém cumpre integralmente sua pena."