Título: Mais organização, menos mortes
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

Nenhum estudioso de violência e homicídios seria capaz de detectar, por meio números ou estatísticas, qualquer relação entre a queda de homicídios no Estado e o fortalecimento do PCC nos últimos anos. Mas, dentro da polícia, há delegados que apontam o crescimento do PCC como um dos fatores que ajudam a compreender a queda de mais de 50% nos assassinatos da capital.

A explicação é simples. Com um crescimento no número de simpatizantes filiados ao PCC no mundo do crime, a decisão de matar deixou de ser algo aleatório para passar pelo crivo do comando da organização. Quando as bocas de tráfico eram autônomas, uma simples disputa por território, por exemplo, podia iniciar um mata-mata sem fim. A primeira morte acontecia e iniciava-se um ciclo de vingança que podia durar anos.

Com o crescimento do número de filiados ao PCC e o fortalecimento de suas lderanças, antes de tomar a iniciativa de praticar um assassinato, os filiados passaram antes a ter de consultar o comando do chamado "partido" e obter uma autorização para a realização do crime. Essa seria uma possível explicação para a queda no número de homicídios entre criminosos.

Desde 2001, o Estado de São Paulo e a capital verificaram uma queda abrupta dos assassinatos. Em São Paulo, diminuíram quase 60%. Várias medidas vêm sendo apontadas por estudiosos para explicar as causas dessa aparente pacificação.

Em quatro anos, houve um aumento de mais de 700% na prisão de homicidas. Leis restringiram o funcionamento de bares nos bairros mais violentos, houve maior apreensão de armas e investimentos em equipamentos sociais (que conseguem garantir o caminho daqueles que poderiam optar pela carreira criminosa).

Mas ainda falta verificar o peso do fortalecimento da liderança do PCC nesse processo. Diferentemente do Rio, São Paulo sempre se caracterizou por ter uma realidade criminal menos organizada, sem grandes grupos em seu comando. Isso começou a mudar a partir do final de 2002, com a ascensão de Marcola ao comando da organização.