Título: Em volta da P1 de Avaré, casinhas e verde
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

A Penitenciária Dr. Paulo Luciano Campos, conhecida como P1 de Avaré, tem à sua volta vizinhos típicos de uma pequena cidade do interior: casinhas baixas, de cores variadas, e um horto florestal. É uma das áreas residenciais do município de 86 mil habitantes que até pouco tempo atrás era conhecida pela Represa de Jurumirim e pelo doce de leite que leva o nome da cidade. No Bairro São Luís a maioria dos moradores se conhece pelo nome. Ali, os poucos estabelecimentos comerciais são pequenos bares e um posto de gasolina. Só a penitenciária é vizinha indesejada.

Ninguém dormiu na noite de sexta-feira para sábado, agitados por conta do movimento de policiais, de curiosos e da gritaria dos presos. Das ruas víam os telhados destruídos, as paredes, que antes eram brancas, enegrecidas pela fumaça. O presídio, que foi destruído, tinha acabado de ser reformado e teria uma ala exclusiva para seqüestradores. Agentes penitenciários culpam o movimento de funcionários da empreiteira responsável pela obra pela entrada de armas e celulares.

Foi em volta das muralhas da P1 que os moradores se encontraram sob o sol característico da Região Oeste do Estado, na manhã de sábado. Queriam informações sobre os reféns - na maioria amigos ou parentes. Muitos se mostravam escandalizados com oa onda de rebeliões. "Desde que começou essa história de PCC, vivo trancada. Tenho medo que fuja alguém, que invadam minha casa, que matem meus filhos", disse a comerciante Vilma Pereira de Souza, moradora de uma casa desfigurada pelas telas e grades que adaptou nas portas e janelas, e onde vive há 15 anos.

Outro morador, que tem da sacada da cozinha vista para os fundos do presídio, disse que pensa em vender a casa, para onde se mudou dias antes da inauguração da P1, em agosto de 1970 - na época, se imaginava mais seguro ali. "A gente vive tenso. Mas não adianta mudar de casa, porque Avaré já não é uma cidade segura."

Além da P1, há outra penitenciária, a P2, no distrito de Barra Grande, que também se rebelou. Toda a polícia da cidade estava voltada para as rebeliões.

Na P1, os policiais protagonizaram uma cena jamais vista na cidade: desceram de helicóptero no telhado do presídio. Ao mesmo tempo, a tropa invadia por terra. Da rua, a apreensão aumentava à medida que se ouviam os gritos e estrondos das bombas e tiros de bala de borracha. "Para quem nunca viu isso, é um horror. O não sei o que é uma bomba de efeito moral. Não sei o que é tiro de bala de borracha", disse a professora Célia Custódio.

Menos de meia hora depois, os reféns deixavam o presídio. A Tropa de Choque encerrou seus trabalhos aplaudida pela multidão.