Título: Facção ordenou motins na Febem Vila Maria
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

A ordem chegou por celular. De um líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) para um voz - líder dos internos - do Complexo Vila Maria da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem). Foi no início da tarde, horário de visita do Dia das Mães. Alguns internos ainda conseguiram avisar parentes de que era melhor saírem porque a situação ficaria tensa. Às 15h50, os 300 internos do Complexo estavam rebelados. Situação semelhante à verificada na unidade 12 do complexo Tatuapé, no mesmo horário, onde a Febem não sabia informar quantos eram os amotinados.

"O fato de ter começado por Vila Maria e Tatuapé já é indício de relação com o PCC", confirmava no início do motim o coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves. "Temos informação de que há celulares nas mãos de internos nesses complexos e lá também se concentram os agentes penitenciários."

A Febem, porém, preferia dizer que os tumultos começaram por causa de tentativas de fuga nos dois complexos. Segundo a fundação, os internos teriam notado que o efetivo policial em torno deles havia sido alterado devido ao que ocorria na cidade. Outro argumento usado pela fundação era de que, durante a visita, familiares teriam informado os adolescentes sobre as rebeliões em presídios e os ataques à polícia.

A ligação de internos da Febem com o PCC, porém, não é nova. Há cinco anos entidades de defesa dos adolescentes vêm alertando para os riscos das regras do sistema carcerário se estenderem às unidades de atendimento de infratores. E, conforme o Estado noticiou, no complexo Tatuapé tornou-se hábito dos internos participar diariamente da chamada "reza do PCC". De mãos dadas, adolescentes começam o ritual com um pai-nosso e o encerram com palavras de exaltação à facção criminosa paulista e ao Comando Vermelho (CV).

No fim da tarde de ontem, a Febem informava que as duas rebeliões já haviam sido controladas e não havia feridos. Mas na Vila Maria, onde adolescentes atearam fogo em colchões e chegaram a tomar dez agentes como reféns, chegou a haver invasão da tropa de Choque e, do lado de fora, parentes de internos reclamavam de garotos feridos no complexo.

"Tem denúncia de menino com fratura exposta por causa de bomba que o Choque jogou e dois menores baleados", conta o pastor Vicente Torquato dos Reis, pai de um interno. "Não se pode confundir a forma enérgica com que atuamos com violência. Precisamos agir de forma positiva numa situação problemática como a que enfrentamos", respondeu o capitão Romesnir, do Choque.

CLIMA TENSO

Havia também informação sobre menores mortos, não confirmada pela Febem. No Tatuapé, educadores haviam sido orientados a deixar as unidades às 17 horas porque o clima estava tenso e os agentes penitenciários se encarregariam de controlar a situação dali em diante. A cavalaria cercou o complexo e evitou à tarde tentativa de fuga.

Alguns parentes ficaram surpresos por ter havido rebeliões no Dia das Mães. "Não acredito que esse motim tenha sido premeditado porque as visitas do domingo são uma das poucas alegrias que eles têm, sobretudo numa data tão especial", disse uma mãe que pediu para não ser identificada, na porta do complexo Vila Maria.