Título: 'Reação violenta não resolve'
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

Só o estrito cumprimento da Lei de Execuções Penais e o controle efetivo da corrupção no sistema penitenciário poderão evitar rebeliões como as que estão ocorrendo em São Paulo. É assim, em uma frase, que Luiz Eduardo Soares, ex-secretário nacional de Segurança Pública, ex-titular dessa pasta no Estado do Rio, o antropólogo, professor universitário e escritor, resume o que precisa ser feito. Soares vê como um grave erro a crença de que práticas que violam os direitos humanos nas prisões irão trazer mais segurança para a sociedade: "Horrorizada, a opinião pública clama por um rigor que, muitas vezes, ultrapassa os limites. É um equívoco acreditar que isso terá resultado positivo".

"Nem a barbárie do crime nem os excessos do Estado podem ser aceitos."

Ele considerou "bem equilibrada" a resposta dada pelo governo de São Paulo aos ataques, apesar de acreditar que a situação não está sob controle, como afirmou o governador Cláudio Lembo. "O que aconteceu demonstra que não há controle algum. Entendo que o governador tem de dizer que há, mas não adianta tapar o sol com a peneira."

Soares fez um paralelo entre os ataques ocorridos em São Paulo e os que aconteceram no Rio em 2002 e em 2003. "É a mesma lógica, o mesmo padrão. Só que em São Paulo houve um nível de articulação superior", disse. Em São Paulo, o alvo foi a polícia. No Rio, prédios públicos, como a Prefeitura e o Palácio Guanabara, sede do governo.

Além disso, a população foi afetada mais diretamente - shoppings foram atingidos, o comércio de rua fechou e ônibus foram queimados. "Nas duas cidades, não se trata de um caso típico de segurança pública, como um assalto, um seqüestro ou um homicídio", disse. "É uma intervenção do tipo terrorista, que tem como objetivo agredir o Estado. Não existem propósitos econômicos. Foi estabelecido um novo patamar."