Título: A ameaça terrorista
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

O Primeiro Comando da Capital (PCC) foi fundado em 31 de agosto de 1993 na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté, o Piranhão, no Vale do Paraíba. Até hoje, seus integrantes alegam que a facção criminosa foi criada para lutar contra a opressão e os maus-tratos no sistema prisional, como o massacre de 111 homens na antiga Casa de Detenção, no Carandiru, em 2 de outubro de 1992.

Oito presos participaram dessa fundação. Mas apenas dois, José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, estão vivos. Ambos foram excluídos do grupo e jurados de morte após uma luta interna pela disputa de poder, iniciada em outubro de 2002.

O PCC, também chamado de Partido do Crime por seus integrantes, ficou nas sombras por cinco anos. Nesse período, autoridades governamentais e do sistema prisional insistiam em negar a existência do grupo.

O Partido do Crime tem um estatuto, com 16 artigos, escrito por um de seus fundadores, Mizael Aparecido da Silva, o Miza, assassinado em fevereiro de 2002 na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau. O documento tem forte teor político e ideológico e cita até a coligação com o temido Comando Vermelho, o (CV), facção criminosa do Rio.

O estatuto escrito por Miza prega ações de resgates, contribuição de seus integrantes mais estruturados e ajuda social e assistência jurídica, como pagamentos de advogados, para os detentos mais necessitados. Por tudo isso, os ideais do PCC se espalharam no sistema prisional paulista. Hoje, a facção domina 95% dos presídios do Estado, onde estão confinados 140 mil homens.

Os líderes do PCC cumpriram penas em Mato Grosso do Sul, Bahia, Rio, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. As sementes da facção criminosa foram espalhadas nesses Estados.

Após a guerra interna, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, passou a ser o número 1 da organização. Desde fevereiro de 2001, quando seus integrantes realizaram a primeira rebelião em série em 25 presídios e quatro cadeias públicas, o telefone celular é a principal arma do grupo. Em posse dos celulares, os presos realizam conferências e articulam, em poucos minutos, suas ações, como as maiores rebeliões simultâneas do País. Uma velha promessa do PCC era a de se tornar uma organização terrorista. Ela está sendo cumprida.

* Josmar Jozino é jornalista e autor do livro "Cobras e Lagartos "