Título: PCC queima ônibus e ameaça economia. Mortos chegam a 77
Autor: Marcelo Godoy ... [et al.]
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/05/2006, Metrópole, p. C1

Dois dias depois de ter sido deflagrada a maior onda de ataques do crime organizado já registrada no Brasil, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) tenta desestabilizar a ordem pública. A Polícia Civil grampeou conversas de integrantes da facção em que se fala de ataques a alvos civis para afetar a economia. A nova estratégia pôde ser vista ontem, com ataques a ônibus - foram 28 queimados na capital - e estabelecimentos privados - foram alvos de barbárie dois bancos e um posto de gasolina na Grande São Paulo.

Até as 22 horas de ontem, haviam ocorrido 115 ataques cujo alvo eram instalações policiais, prédios da Justiça e agentes. O número de mortos chegou a 77 pessoas: 20 policiais militares, 6 policiais civis, 8 agentes penitenciários, 3 guardas civis, 2 civis, 23 supostos criminosos e 15 presos. Pelo menos 44 pessoas ficaram feridas.

Nos presídios, a situação piorou vertiginosamente na visita do Dia das Mães. Enquanto no sábado foram contabilizadas 24 rebeliões - sem mortes -, ontem presos e presas se amotinaram em 71 dos 105 presídios de regime fechado - apenas 25 eram consideradas controladas até as 22 horas. Foram feitos reféns 237 funcionários, além de visitantes. Em Jaboticabal, um diretor da prisão teve 70% do corpo queimado. Os motins também atingiram cadeias públicas e se estenderam para além da fronteiras do Estado, chegando a penitenciárias do Paraná e de Mato Grosso do Sul. Acrescentaram-se a esse quadro caótico, rebeliões nas unidades Tatuapé e Vila Maria da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), que foram controladas.

O governo estadual argumenta que a polícia partiu para o contra-ataque e matou 23 bandidos e prendeu 82 suspeitos. "Estamos recuperando o total controle da cidade e do Estado", disse o governador Cláudio Lembo (PFL). A estratégia dos órgãos de segurança na noite de anteontem foi convocar todos os policiais disponíveis para reforçar o patrulhamento das ruas e das unidades policiais. A ordem era reagir aos ataques e impedir novas baixas entre a polícia. O resultado é que diminuíram os ataques a delegacias e batalhões - não houve nenhum na capital na madrugada de ontem.

Os bandidos mudaram, então, de estratégia e passaram a concentrar os ataques a policiais sozinhos, bases da Guarda Civil Metropolitana, fóruns criminais e até bases da Polícia Rodoviária Federal.

Na madrugada, o filho de um policial foi morto em uma emboscada na zona norte. À tarde, o transporte público passou a ser alvo dos criminosos.

O governo federal encara com preocupação a onda de violência e quer que as Forças Armadas sejam usadas para conter a ofensiva promovida pelo crime organizado. Ao mesmo tempo, já colocou de prontidão a Força Nacional, grupo formado por integrantes de elite de diversas organizações federais e estaduais. Lembo já recusou a ajuda oferecida, mas o governo federal crê que a decisão possa ser revista.

SITUAÇÃO GRAVE

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, considera o assunto tão grave que pretende discutir a situação com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os principais ministros do governo. Para tanto, deve aproveitar hoje a reunião da coordenação política do Planalto.

Na quinta-feira, o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, Marcola, foi transferido de Avaré para Presidente Venceslau, junto com mais de 700 criminosos da facção em todo o Estado. As autoridades haviam descoberto que eles planejavam uma onda de rebeliões para o fim de semana. No presídio, os líderes do PCC passaram a exigir 60 aparelhos de TV e a liberação de visita no Dia das Mães. O governo do Estado se recusou a negociar. Marcola foi trazido para a capital para ser interrogado e a onda de ataques começou no mesmo dia.