Título: Brasil ainda desconhece sua riqueza
Autor: Herton Escobar
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2006, Vida&, p. A26

De 1,4 milhão a 2,4 milhões de espécies, só 200 mil são conhecidas

A dificuldade de acesso a coleções biológicas de referência remete a um problema ainda mais básico do Brasil, que é a falta de conhecimento sobre a biodiversidade nacional. Estima-se que o País tenha entre 1,4 milhão e 2,4 milhões de espécies de plantas, animais e microrganismos - a maior diversidade biológica do planeta. Porém, apenas cerca de 200 mil delas são conhecidas pela ciência, segundo a última Avaliação do Estado do Conhecimento da Biodiversidade Brasileira (veja quadro acima).

A solução, nesse caso, também passa pelas ferramentas digitais de apoio à pesquisa. Uma das propostas apresentadas recentemente pela comunidade científica é a criação do SciELO Biodiversidade, uma divisão do banco de publicações científicas SciELO voltada exclusivamente para pesquisas nessa área. "Uma barreira muito séria ao avanço do conhecimento é a falta de organização e acesso rápido a informações bibliográficas", diz o pesquisador Hussam Zaher, curador das coleções de herpetologia e paleontologia do Museu de Zoologia da USP.

O SciELO é uma biblioteca eletrônica de acesso livre a publicações científicas, com mais de 300 periódicos do Brasil e outros países da América Latina, além de Portugal e Espanha. Mantida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em parceria com a Bireme/Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o sistema recebe 25 milhões de downloads por ano.

O SciELO Biodiversidade entraria como uma área temática de destaque, aumentando o número de publicações disponíveis e criando mecanismos de busca específicos sobre o tema. "Esperamos com isso fortalecer a produção de conhecimento sobre biodiversidade, assim como sua divulgação", diz o diretor da Bireme, Abel Laerte Packer.

OBRAS RARAS

Outra meta do projeto é a digitalização de obras raras sobre biodiversidade, a exemplo do que foi feito recentemente com a Flora Brasiliensis, a obra produzida pelo naturalista alemão Carl von Martius durante o século 19 e que, até hoje, é a principal referência de botânica sobre a flora brasileira.

A idéia, segundo Zaher, é criar um laboratório de digitalização na Bireme, além de unidades móveis que percorreriam as oito principais bibliotecas científicas do País. A meta seria digitalizar até 800 obras nos próximos três anos (100 em cada biblioteca). "O acesso a informações históricas é essencial para o estudo da biodiversidade", explica Zaher. "Trabalhamos com regras de nomenclatura que freqüentemente nos jogam para textos dos séculos 18 e 19."