Título: Inspirado em protestos da França, movimento planeja ações nas cidades
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2006, Nacional, p. A14

O MST prepara-se para atuar nas cidades, se urbanizar, ensinar os desempregados e trabalhadores não organizados a ir para a rua "fazer a luta", em grandes ações conjuntas com entidades como Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE) e movimentos de sem-teto e desempregados.

"Eleição não basta", disse João Paulo Rodrigues, coordenador nacional do MST, ao anunciar a nova estratégia, no Recife. "Só se conseguem mudanças estruturais e na política econômica com o povo nas ruas", justificou. Segundo ele, "nos próximos anos o Brasil terá, possivelmente, o maior movimento de massa da história dos últimos 20 anos, caso o governo não avance nas políticas públicas."

O objetivo do MST é fazer uma revolução inspirada no recente exemplo da juventude francesa que, depois de dois meses de intensas manifestações de rua, conseguiu o recuo do governo na questão do Contrato do Primeiro Emprego, que desaprovava. Revolução é, no seu conceito, resolver o problema do emprego, da moradia, da terra, do Estado burocratizado, das desigualdades sociais - o que também só se consegue com a mudança da política econômica, segundo ele. "Mesmo que o companheiro Jaime Amorim (também coordenador do MST, com atuação em Pernambuco) fosse eleito presidente, não haveria transformações sem a pressão popular nas ruas."

Rodrigues fez as declarações um dia depois de o mesmo Amorim ter considerado o MST uma organização pequena, que precisa crescer e expandir seus métodos de luta. "O grande desafio é aumentar nossa base para as mais de 4 milhões de famílias sem-terra no País e, ao mesmo tempo, termos nossas teses defendidas por outras forças", reforçou o coordenador nacional do MST.

"Da mesma forma que conseguimos construir a Via Campesina rural, queremos construir a Via Campesina urbana", explicou. Ele destacou ainda que 82% da população brasileira está nas cidades, onde também se concentram as desigualdades sociais.

João Paulo Rodrigues acredita que as ações conjuntas com os movimentos urbanos devem começar a se concretizar em 2007, com uma jornada da juventude rural e urbana. "Não queremos que a turma da cidade bote a camisa do MST, queremos que a turma da cidade lute contra o agronegócio, os transgênicos, as ações imperialistas na América Latina. Queremos grande enfrentamento contra o capital internacional."

A programação do MST integra mobilizações e invasões de terra no primeiro semestre. No segundo semestre pode haver um arrefecimento porque a tendência é de envolvimento da população com a Copa do Mundo e a campanha eleitoral, não havendo com quem dialogar no campo institucional.

No 1º de Maio, Dia do Trabalho, o MST deve fazer novos protestos e invasões em todo o País.