Título: Para a oposição, Lula mente ao falar de êxito no petróleo
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2006, Nacional, p. A5

Tucano aponta exploração eleitoral na P-50; petista diz que adversários reclamam 'até se chover no Nordeste'

A oposição elevou o tom ontem e cobrou "seriedade" e "escrúpulos" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação à alardeada auto-suficiência brasileira na produção de petróleo, concretizada no governo do PT. Vice-presidente do PSDB, o deputado Alberto Goldman (SP) apontou "falta de caráter" de Lula ao tratar do tema. "Não há nada de errado em um presidente propagandear seus feitos", disse Goldman. "Mas não é possível mentir, fazer comparações falsas e subestimar governos anteriores. Isso é falta de caráter."

O deputado, que em 1995 presidiu a comissão que permitiu a entrada de capitais no mercado de petróleo do País, observou que a inauguração da plataforma P-50 da Petrobrás anteontem no Rio foi "eleitoreira". Seguiu, assim, a mesma linha do presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que falou em "pré-campanha deslavada e escárnio".

A atitude do presidente, que, na Bacia de Campos, vestiu um macacão de funcionário e sujou as mãos de óleo, imitando ação do presidente Getúlio Vargas em 1952, também foi criticada.

Para Bornhausen, o ato é "a fotografia da corrupção". O comentário foi baseado na informação de que a propaganda custou R$ 37 milhões e foi executada pelo publicitário Duda Mendonça, investigado por suposta prática de crimes e irregularidades na campanha de 2002, que elegeu Lula presidente.

O vice-presidente do PSDB também criticou Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobrás, que na inauguração da P-50 acusou o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de preparar a estatal para ser privatizada. "Isso é jogo irresponsável. Uma mentira deslavada. Pela primeira vez na história vemos um presidente da Petrobrás se comportar como cabo eleitoral do presidente da República", disse Goldman.

Goldman assegurou que "em nenhum momento" se cogitou privatizar a Petrobrás na gestão tucana. Ele insistiu que, à época, diante das suspeitas levantadas pela oposição, Fernando Henrique enviou carta ao Senado e à Câmara negando a possibilidade de privatização da estatal petrolífera.

Sobre a auto-suficiência, o vice-presidente do PSDB diz que a comparação favorece a administração tucana. Ele lembrou que de 1994 a 2002 a produção de barris de petróleo por dia saltou de perto de 800 mil para 1,5 milhão. "De 2002 a 2005, o salto foi de 1,5 milhão dia para 1,7 milhão. Ou seja, aumento bem menor foi o conquistado com Lula", comparou o tucano.

CONQUISTA

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, rebateu as acusações da oposição. "No governo anterior, além da dificuldade grande com o apagão energético, houve até afundamento de plataforma (a P-36 em 2001). No governo do Fernando Henrique, inauguração de plataforma, só escavando ou usando submarino", ironizou Mercadante, lembrando do acidente que fez a P-36 submergir.

O senador observou que a produção média de petróleo no Brasil cresceu, em média, 20% se comparados os últimos três anos do governo FHC com os três da gestão do PT.

Mercadante destacou ainda que atualmente quatro plataformas de produção estão sendo construídas, além de uma de rebombeamento.

"A auto-suficiência deveria ser comemorada por todos porque é uma conquista do País", alfinetou. "Mas a oposição vai reclamar até se chover no Nordeste", emendou Mercadante.

Para o líder do governo no Senado, as críticas da oposição - como a acusação de que houve exploração eleitoral na P-50 - podem ser classificadas como "bobagens". "Tem sido assim na história: uns fazem e outros resmungam", finalizou ele .