Título: Sob pressão da bancada federal, PSDB muda campanha de Alckmin
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/04/2006, Nacional, p. A4

Partido contrata assessoria, começa a montar estratégia de campanha e faz candidato ouvir deputados federais

Sob pressão da bancada federal do PSDB, a campanha de Geraldo Alckmin vai mudar. Esta semana o pré-candidato tem uma reunião de trabalho com deputados e senadores tucanos, na qual serão discutidas sugestões de mudanças. Alckmin também terá um jantar para se aproximar mais da bancada.

O PSDB contratou, para o pré-candidato, uma equipe de comunicação experiente, que já começou a operar na viagem ao Rio Grande do Norte. O homem de comunicação do PSDB, Luiz Gonzalez, volta hoje ao Brasil e deverá assumir imediatamente a estratégia geral da campanha tucana.

Essas providências, adotadas pelo presidente do partido, senador Tasso Jereissati (CE), deram resposta a um levante que estava em formação na bancada tucana contra o frio início da campanha de Alckmin, que estava sendo rotulada pelos deputados como "provinciana" e "improvisada". Os parlamentares dizem que Alckmin começou sem estratégia, sem discurso, sem dinheiro, sem equipe, sem marca, sem um programa para vender e com pouco trânsito no Congresso - e cobraram mudanças urgentes na campanha.

SILÊNCIO ENSURDECEDOR

A insatisfação começou com cochichos, que cresceram até virar, na palavra de um deputado, "um silêncio ensurdecedor". Os deputados esperavam que Alckmin, ao deixar o governo de São Paulo, tivesse um início de campanha impactante, mas se assustaram quando ele chegou a Brasília de mãos abanando, indicando que só então começaria a organizar a campanha. Para piorar, na largada o pré-candidato foi alvejado por uma série de denúncias que os parlamentares reputam como frágeis, mas que prosperaram duas semanas nas manchetes dos jornais por falta de respostas adequadas.

Preocupado com eventuais críticas dos adversários, Alckmin, afeito a campanhas modestas e frias, optou por começar com uma estrutura pequena, mas a falta de uma equipe logo lhe causou problemas. Sem um estrategista, saiu batendo no presidente Lula, em vez de produzir falas propositivas. Um deputado tucano ironizou: se Lula perdesse pontos por apanhar da oposição já estaria abaixo de zero. A irritação subiu dois tons quando Alckmin usou uma expressão futebolística - uma marca de Lula - ao responder a uma questão. Para os deputados, a tirada não soou espontânea, chancelou o estilo populista de Lula e ainda pareceu imitação barata.

No dia em que as denúncias do PT contra a Nossa Caixa chegaram ao auge, ele viajou para Brasília num vôo comercial, acompanhado apenas do ajudante-de-ordens; ao desembarcar, enfrentou a fuzilaria de um pelotão de jornalistas no aeroporto. Sem nenhum anteparo, o pré-candidato teve de dar as primeiras explicações sobre a denúncia, contrariando a prática usual, que recomendaria uma resposta por meio da direção do partido, que serviria de pára-choque do candidato, protegendo-o do desgaste.

Sem planejamento, as viagens iniciais de Alckmin seguiram uma trilha errática, segundo deputados, levando-o a lugares não avaliados previamente. Sem um assessor a aconselhá-lo, cometeu equívocos: em Toritama (PE), comprou uma camisa sem nota numa feira. Sua agenda tem sido fechada no fim da tarde para o dia seguinte; ninguém sabe o que ele fará daqui a dois dias. "A campanha será assim mesmo, singela", rebate o secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ).

Quando detectou a insatisfação crescente, Tasso preferiu acelerar o ritmo da campanha. Programou para terça-feira um jantar de Alckmin com a bancada federal. Quando alguns deputados rebateram que o jantar seria uma forma de reunir as pessoas sem uma discussão mais profunda dos problemas, ele manteve o jantar, mas agendou também uma reunião de trabalho da bancada com Alckmin, num foro livre em que os deputados poderão desabafar suas dúvidas e incertezas diretamente com o candidato e, no debate, conhecê-lo melhor.