Título: Para Alencar, o que Evo está fazendo é 'violência'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Economia & Negócios, p. B1,3,4

O vice-presidente José Alencar classificou de "violência" a intenção do governo boliviano de expropriar os equipamentos da usina siderúrgica que a empresa brasileira EBX estava instalando na Bolívia. A informação de que os investimentos de US$ 50 milhões já realizados seriam expropriados foi dada anteontem pelo vice-presidente boliviano, Álvaro García Linera, depois de o empresário Eike Batista, da EBX, ter anunciado que deixará o país vizinho por causa da oposição que o governo da Bolívia faz ao projeto.

A princípio, Alencar evitou comentar o assunto, dizendo que não tinha informações a respeito. "Eu não posso dar opinião, pois não conheço as razões que, porventura, levaram o país (Bolívia) a rejeitar a instalação de uma fábrica que, pelo que eu vi na TV, o povo deseja, porque o povo alega que tem pessoas desempregadas", disse o vice-presidente. "Eu não conheço os fundamentos que, porventura, estejam sendo levados em consideração pelo governo (boliviano) para realizar uma violência dessas", acrescentou.

O governo brasileiro está preocupado com o caso e vem procurando manter abertos os canais de diálogo com o governo boliviano, com o qual já enfrenta uma dura negociação sobre a nacionalização das jazidas de petróleo e gás, que afeta em cheio os interesses da Petrobrás, que tem US$ 1,5 bilhão investidos no país vizinho.

Embora tentando manter o caso da EBX no âmbito das relações entre o governo boliviano e uma empresa privada, o assessor internacional da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, disse ao Estado que os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Evo Morales vão conversar "oportunamente" sobre questões envolvendo os países.

"A EBX é um problema particular. Queremos que se dê à EBX o mesmo tratamento que se dá às outras empresas. Se eles têm um problema com a EBX, eles têm de resolver isso com a EBX", afirmou Marco Aurélio. E acrescentou: "O governo boliviano é soberano para tomar as decisões que achar que deve tomar, mas a expectativa do governo brasileiro é de que pudesse haver um acordo entre o governo e a empresa, mesmo porque entendemos que este é um investimento muito importante para a Bolívia".