Título: Eike Batista defende ação do governo brasileiro na Bolívia
Autor: Sonia Racy
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Economia & Negócios, p. B2

É - para dizer o mínimo - absolutamente chocante acompanhar as decisões tomadas nos últimos dias pelo governo Evo Morales. Mais chocante, ainda, é a inércia demonstrada pelo governo Lula em tomar atitudes firmes contra a quebra de contratos com empresas brasileiras do porte da EBX e da Petrobrás. Ontem, o governo Morales foi além da imaginação ao reagir agressivamente à decisão da EBX de deixar o país. O vice-presidente Álvaro García Linera - cujo mentor e ídolo é ninguém menos que o polêmico cientista de esquerda brasileiro Emir Sader - resolveu anunciar, segundo o jornal La Prensa, que o Estado tentará expropriar o investimento já realizado pela companhia em Puerto Quijarro. Se a idéia for posta em prática, a EBX pode ter um prejuízo de US$ 50 milhões, dos US$ 148 milhões de investimento previsto.

Indagado ontem sobre o assunto, Eike Batista, controlador da EBX, se disse estarrecido. "A história está chegando a um ponto que se transformou em assunto de governo. Precisamos da ajuda do governo brasileiro", atesta Batista, sem querer se estender sobre o assunto. Ao jornal, Linera explicou que o governo vai pedir ao Poder Judiciário a expropriação dos equipamentos "implementados ilegalmente".

No caso da Petrobrás, a agressividade ainda não atingiu o ponto máximo, mas pode chegar a isso. Fala-se que o governo Morales quer que a estatal "troque" com o governo a porcentagem de sua participação nos resultados de venda do gás boliviano. Após aceitar dobrar o volume de royalties pagos ao governo boliviano de 9% para 18%, a Petrobras foi surpreendida com nova exigênciacia. O governo Morales quer agora uma troca: a Petrobrás ficará com os 18% do resultado e a Bolívia, com 82%. Dificilmente a estatal cederá a um pleito deste tipo. A dúvida: será que Morales também vai desapropriar ativos da Petrobrás?

Quem se der ao trabalho de procurar informações no site do governo boliviano, vai se deparar com um volume grande de citações contra a estatal brasileira. Nesta semana, por exemplo, o vice-ministro de industrialização e comercialização de hidrocarburos, Cláudio Justiniano, foi demitido porque teve reuniões reservadas com a Petrobrás sem avisar seu chefe. "Esta autoridade teve relações obscuras com a petroleira estatal brasileira."

O fato é que as autoridades bolivianas estão tratando seus interlocutores estrangeiros como bandidos. Acreditam que foram explorados nos últimos 500 anos. Primeiro, na extração da prata, depois, com o ditador Patiño, no estanho. E agora acham que a Petrobrás rouba o seu gás. Há quem acredite que Morales, a exemplo do presidente Hugo Chávez, que passou por uma curva de aprendizado, acabe se rendendo à realidade das regras dos mercados mundiais. Chávez, em uma primeira fase, demitiu diretoria e técnicos importantes da PDVSA para, no momento seguinte, perceber que a empresa não funcionaria sem eles.

No caso de Morales, essa percepção pode ser mais difícil. Afinal, a Bolívia não é dona dos ativos que exploram o gás e Morales não tem a esperteza de Chávez que, no fim das contas, adota um discurso populista, mas trabalha dentro das regras capitalistas.

IMPRESSÃO DIGITAL Para Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do BC, hoje sócio da Mauá Investimentos, os resultados das contas públicas divulgados ontem - que vieram acima do que se esperava e dentro da meta -, é, sem dúvida, um sinal positivo, uma vez que o governo tem aumentado os gastos. Pode-se dizer que esses números eliminam a insegurança dos mercados? "Ainda não. Os mercados vão continuar a acompanhar, com muita cautela, o andar da carruagem dos gastos de olho na meta anual estabelecida de 4,25% do PIB."

Por conta dessa divulgação, aliás, os juros caíram no mercado futuro da BM&F durante o dia de ontem.

NA FRENTE NÃO

De Nova York, Sérgio Rosa, da Previ, faz coro ao desmentido oficial da Vale do Rio Doce sobre possível pulverização dos papéis da empresa, nos moldes da recente operação da Telemar, que migrou para o Novo Mercado. "O assunto jamais foi tratado na Vale."

Consta, porém, que o tema teria sido levantado em reunião de conselho da empresa, sendo descartado de imediato, por dificuldades de implantação.

ESPECULAÇÃO

O fato é que o rumor acabou gerando forte especulação. Parte do mercado ontem ignorou os desmentidos e continuou a "puxar" as ações ON da Vale na Bovespa e derrubar as PN, sem direito a voto. E as ações da Bradespar, acionista de peso da Vale, subiram nada menos que 7%.

ATENÇÃO

O INA, que será divulgado hoje pela Fiesp e pelo Ciesp, vai surpreender para o bem.

CONTRATO

A construtora Norberto Odebrecht está construindo um complexo viário em Dubai.

Valor: US$ 133 milhões.

ONLINE

O governo Lula recebeu ontem carta do presidente George Bush, com proposta do irmão, Jeb Bush, de um programa de incentivo para o uso de 15% de álcool na gasolina, da Patagônia ao Alasca. A carta está com o ministro Roberto Rodrigues. Há quem tenha visto na proposta uma resposta do governo americano ao anúncio do Gasoduto Venezuela-Cone Sul.