Título: Aiatolá faz ameaça a Estados Unidos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Internacional, p. A13

Khamenei avisa que, se o Irã for atacado, a resposta contra interesses americanos em todo o mundo virá em dobro

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, advertiu ontem o governo americano que os interesses dos EUA em todo o mundo serão prejudicados se lançarem um ataque ao país. "A nação iraniana vai responder a qualquer golpe com o dobro de intensidade", afirmou Khamenei em um discurso aos trabalhadores, para celebrar com antecedência o 1 º de Maio. Khamenei insistiu que o Irã não cederá às "ameaças e intimidação" dos EUA. "A nação iraniana e suas autoridades buscam a paz. A Republica Islâmica não vai invadir nenhum lugar."

Os líderes iranianos elevaram nos últimos dias o tom da retórica porque amanhã expira o prazo dado pelo Conselho de Segurança da ONU para que o Irã suspenda seu programa de enriquecimento de urânio, que está sob suspeita da comunidade internacional. O Irã garante que seu objetivo é o uso pacífico da energia nuclear, para produção de energia elétrica. Mas a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) - órgão da ONU encarregado de supervisionar o uso pacífico da energia nuclear - e os membros permanentes do Conselho de Segurança (EUA, França, China, Rússia e França) temem que esse projeto seja uma fachada para um plano armamentista. Isto porque o urânio enriquecido também pode ser usado em armas.

Seguindo a determinação da ONU, amanhã o diretor da AIEA, Mohamed el-Baradei, deve apresentar um relatório especificando se o Irã cumpriu as exigências. A previsão é que o tom será negativo. Afinal, em vez de atender ao Conselho, o Irã anunciou no dia 11 o início do enriquecimento de urânio e os planos para realizar o processo em escala industrial.

Ontem uma delegação iraniana participou de uma reunião de última hora com os dirigentes da AIEA, em Viena.

Autoridades americanas têm dito que buscam uma solução diplomática para a questão ao mesmo tempo que deixam claro que "todas as opções estão sobre a mesa". Ou seja, uma ação militar não está descartada. O objetivo imediato dos EUA, entretanto, é obter o apoio dos demais membros permanentes do CS (os quais têm poder de veto) para a aprovação de sanções contra o Irã. Essa meta tem a oposição firme da China e da Rússia, fortes parceiros comerciais dos iranianos.

Como signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), o Irã se mantém irredutível quanto a seu direito de dominar todo o processo de produção de energia nuclear para fins pacíficos. As suspeitas de que o país descumpre o TNP surgiram em 2003, depois de comprovado pela AIEA que o Irã mantinha instalações nucleares secretas.