Título: PM ameaça usar força contra MST em área invadida
Autor: Biaggio Talento
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Nacional, p. A12

Incra negocia com invasores de fazenda da Suzano, mas Polícia Militar se prepara para cumprir decisão judicial

As tensões entre os sem-terra e os policiais militares aumentaram ontem na Bahia e no Paraná. Em Teixeira de Freitas, no sul da Bahia, 400 famílias do Movimento dos Sem-Terra que ocupam a Fazenda Céu Azul, do grupo empresarial Suzano Celulose, têm prazo até hoje para deixar a propriedade. A Polícia Militar já avisou que, caso os invasores não saiam por conta própria, vai usar a força para expulsá-los.

O prazo inicial dado pela Justiça para que os sem-terra deixassem a propriedade expirava ontem. Eles ganharam um dia a mais a pedido do superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), José Leal, que prometeu negociar com os sem-terra para que deixem o local pacificamente.

No Paraná, ao cumprir uma ordem de reintegração de posse da Fazenda Palmeirinha, em Rio Bonito do Iguaçu, no sudoeste do Estado, a polícia deteve dois sem-terra, acusados de porte ilegal de armas. Foram encontradas três armas na operação que mobilizou 52 policiais.

Ainda na Bahia, militantes da Articulação de Movimentos Sociais, Rurais e Urbanos voltaram a fechar ontem a Rodovia BR-324 no município de Capim Grosso. Eles também ocuparam a sede da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), da Secretaria da Agricultura do Estado, no município de Tucano, e um projeto de irrigação que está sendo implantado na região pelo governo baiano.

A ocupação da EBDA foi um ato de represália da Coordenação Estadual dos Trabalhadores Assentados e Acampados (Ceta) à omissão do governo baiano, que não teria agendado reuniões de secretários com os trabalhadores, como eles reivindicavam. As reuniões teriam sido acertadas na segunda-feira entre os representantes de 11 movimentos sociais reunidos pela Ceta e oficiais da Polícia Militar, depois da ocupação da sede da Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder).

"Desocupamos o órgão depois de receber a garantia de que seríamos recebidos nas secretarias para discutir nossas reivindicações", disse Bartolomeu Guedes, um dos líderes do grupo. Ele também anunciou que as ações do movimento devem se intensificar hoje no interior baiano. "Recuamos e liberamos várias rodovias, mas voltaremos a interditar a BR-242, a BR-101 e a BR-116."

Os manifestantes fazem reivindicações aos governos federal, estadual e de vários municípios. Querem terras para reforma agrária, habitação, frentes de trabalho para desempregados, melhorias na estradas e mudanças na política econômica do governo.

Apesar da tensão criada em torno da desocupação da área da Suzano Celulose, há expectativa de uma solução pacífica. Na Bahia, onde os líderes do MST mantêm um bom diálogo com o governo estadual, nunca ocorreu um confronto grave entre policiais e sem-terra em operações de desocupação.

No caso da Fazenda Palmeirinha, no Paraná, a ocupação já durava três meses. Segundo a PM, 70 pessoas estavam acampadas em 20 barracos.

A operação de despejo, determinada pela Justiça, começou às 7h30 e acabou às 16h30.

O MST foi notificado porque mantinha uma criação de porcos em Área de Preservação Ambiental. Em nota distribuída ontem, o movimento criticou a ação policial e as detenções dos sem-terra Louri Barbosa e Valdecir Vieiro. O texto informa que as famílias vão acampar às margens da BR-158. De acordo com o MST, a fazenda tem 200 hectares e pertence ao vice-prefeito de Rio Bonito do Iguaçu, José Damaceno Biancini.