Título: Ex-gerente da Nossa Caixa contesta presidente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Nacional, p. A11

Funcionário demitido em sindicância diz que direção sabia da falta de contratos de publicidade

Jaime de Castro Júnior, ex-gerente de Marketing da Nossa Caixa, contestou ontem a versão dada na véspera pelo presidente do banco, Carlos Eduardo Monteiro, em depoimento à Assembléia paulista.

O ex-gerente disse que Monteiro tinha conhecimento de que as agências Full Jazz Propaganda e Collucci Associados trabalhavam para o banco mesmo com contratos vencidos. A situação durou 22 meses, período em que movimentaram mais de R$ 45 milhões.

Monteiro havia responsabilizado o ex-gerente pela prorrogação irregular da parceria. "O presidente do banco tem responsabilidade, sim", protestou Castro Júnior. "Foi um erro grotesco para uma instituição bancária não perceber essa grave irregularidade. Foi um erro de toda a administração, inclusive do presidente", avaliou.

O ex-gerente tentou demonstrar aos parlamentares os trâmites técnicos de seu antigo departamento, para convencê-los de que era impossível que passasse despercebido pelo presidente do banco ou qualquer diretor o vencimento dos contratos e a prorrogação do serviço. "Se eles não soubessem, seria uma prova de que a diretoria estava fora de controle", disse.

O ex-gerente foi incisivo ao reclamar da sindicância interna aberta, que culminou com sua demissão, por concluir que ele era o responsável pelas irregularidades. "Acho imoral o presidente (Monteiro) montar a comissão de sindicância e nomear essa comissão", anotou. "Não cometi crime nenhum. Mesmo que eu tivesse a pretensa intenção de omitir, jamais conseguiria. É impossível na estrutura do banco."

EMBATE

Encabeçados por PT e PSDB, os partidos contra e pró governo polarizaram o andamento e a repercussão dos depoimentos de Castro Júnior, de Monteiro e da atual gerente de Marketing do banco, Marli Martins, que depôs na noite de terça.

"Esse depoimento mostra o esgotamento da questão", repetia o deputado Edson Aparecido (PSDB), animado com a negativa de Castro Júnior aos questionamentos sobre suposto envolvimento do então governador Geraldo Alckmin (PSDB)na distribuição de verba publicitária da Nossa Caixa.

"O PT quer exagerar o caso, o banco não escondeu nada", continuou Aparecido, descartando a possibilidade de abertura de uma CPI para aprofundar as investigações.

"Há contradições nas versões, um dos dois está mentindo, é preciso uma CPI para a investigação se aprofundar", rebateu o deputado Renato Simões (PT), que pedia uma acareação entre os dirigentes.

Para ele os depoimentos e o parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE) divulgado anteontem - rechaçando a versão de Alckmin de "erro formal" do banco no caso da prorrogação dos serviços das duas agências - comprovariam a responsabilidade do ex-governador e justificariam a investigação. "Os tucanos insistem em CPIs lá em Brasília e aqui evitam todas", disse.

Após mais de quatro horas de depoimento e demonstrando esgotamento, Castro Júnior reclamou de cansaço. Houve um acordo entre as lideranças determinando mais uma hora de seção, o que não foi cumprido e alimentou a troca de acusações entre os deputados em plenário. O depoimento foi encerrado após o ex-gerente insistir que estava esgotado.