Título: Acusado de encomendar morte de Dorothy pega 18 anos
Autor: Carlos Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Nacional, p. A9

Condenação de Tato foi comemorada por ativistas de direitos humanos

O capataz de fazenda Amair Feijoli da Cunha, o Tato, foi condenado ontem em Belém a 18 anos de prisão, acusado de ter negociado o assassinato da missionária americana Dorothy Stang em 12 de fevereiro do ano passado. O resultado, anunciado pelo juiz Cláudio Montalvão das Neves, foi comemorado por familiares da freira, ativistas de direitos humanos e agricultores na frente do tribunal. Dorothy foi morta em Anapu (PA), onde trabalhava com pequenas comunidades pela exploração sustentável da Amazônia.

Depois de 11 horas de julgamento, um júri formado por cinco homens e duas mulheres condenou Tato a 27 anos de prisão, por crime duplamente qualificado, com os agravantes de matar uma vítima sem defesa e maior de 60 anos. A pena foi reduzida para 18 anos porque ele se beneficiou do instituto da delação premiada, por colaborar com a Justiça denunciando os fazendeiros Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, e Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, como mandantes do crime.

No tribunal, Tato repetiu a denúncia, feita na fase de instrução do processo. Durante a exibição em DVD de seu depoimento às Polícias Federal e Civil e a representantes do Ministério Público do Estado, Tato começou a chorar, levando as mãos ao rosto. Do lado de fora do prédio, mais de 200 agricultores vindos de Anapu gritavam "assassino, assassino".

DINHEIRO

O capataz disse que Galvão e Moura pagariam R$ 50 mil pelo crime aos pistoleiros Rayfran das Neves e Clodoaldo Batista, condenados, respectivamente, a 27 e 18 anos de prisão. Os fazendeiros ainda irão a julgamento.

Tato contou que Galvão teria dito a Moura: "Enquanto não se der fim nesta mulher (Dorothy), nós não vamos ter paz nestas terras de Anapu." Moura, resumiu o réu, teria argumentado que todos corriam risco de perder o lote 55 para o Programa de Desenvolvimento Sustentável com o trabalho que a missionária realizava na área.

O promotor Sávio Brabo disse que ao confirmar o depoimento do ano passado, Tato tentava atenuar sua pena, colaborando com a Justiça. O promotor Edson Souza afirmou que o capataz teve participação decisiva no assassinato e rejeitou a tese da defesa, de que ele sofreu coação moral e seu envolvimento seria menor. "A tese não se sustenta, pois o réu confessou ter intermediado o crime e foi apontado por Rayfran e Clodoaldo como intermediário", explicou.

A estratégia de Dalza Barbosa, advogada de Tato, foi transferir para Moura e Galvão toda a responsabilidade. Ela insistiu em que Moura usou de todos os meios para fazer Tato assumir o crime, até ameaçando sua mulher e filhos de morte.

Dalza exibiu uma carta com a assinatura de Moura, citando o que chamou de "graves ameaças". Ela observou que, por se sentir acuado e ameaçado, Tato decidiu assumir a condição de intermediário do crime. "Este pobre homem que aqui está sentado no banco dos réus foi vítima de coação moral irresistível, feita por gente poderosa e sem escrúpulos", afirmou.