Título: Manobra impede absolvição de Vadão já no Conselho de Ética
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Nacional, p. A6

Trad pediu vista e adiou votação de relatório pró-cassação, que não passaria

O deputado Moroni Torgan (PFL-CE) recomendou ontem a cassação do mandato do deputado Vadão Gomes (PP-SP), mas o parecer do relator não foi votado graças a uma manobra para tentar evitar mais uma pizza, desta vez já no Conselho de Ética da Câmara. Diante do quórum de apenas dez conselheiros aptos a votar, o que levaria à derrubada do relatório, o deputado Nelson Trad (PMDB-MS) pediu vista (prazo para análise) do processo e a votação foi adiada para a próxima semana. Dos dez presentes, dois eram companheiros de partido de Vadão e um do PT, que tem votado contra a perda de mandato de suspeitos de envolvimento no mensalão. Os três votos contrários eram suficientes para rejeitar o relatório.

A votação de ontem seria a primeira desde a renúncia de seis conselheiros, inconformados com a sucessão de absolvições no plenário da Câmara, na maioria das vezes contrariando recomendação do conselho. A sessão deixou claro o esvaziamento do conselho e, na avaliação de Trad, uma operação para livrar Vadão. "Não posso admitir a mesma estratégia do plenário", disse Trad ao pedir vista.

O deputado do PP foi processado porque o empresário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, disse ter entregue o total de R$ 3,7 milhões a Vadão, nos dias 5 de julho e 16 de agosto de 2004. O empresário disse que a entrega do dinheiro em espécie ocorreu em um hotel de São Paulo, mas não lembrou o nome. Vadão nega ter recebido recursos do valerioduto. Antes da leitura do parecer, o deputado defendeu-se: "Existe um crime, mas não existe cadáver, não existe arma e o local é duvidoso."

No conselho, o PT sequer indicou os dois titulares que vão substituir os ex-petistas Chico Alencar (PSOL-RJ) e Orlando Fantazzini (PSOL-SP).

"Que coisa feia, achei que o PT iria pelo menos mandar os suplentes", protestou o presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP). Também não apareceram os titulares do PPS, Carlos Magrão (SP), que tinha renunciado ao cargo de suplente e agora voltou por indicação do partido, e do PSB, Josias Quintal (RJ). Até agora, foram absolvidos nove deputados processados por quebra de decoro no escândalo do mensalão. Três perderam o mandato e quatro renunciaram.

Moroni Torgan não aceitou os argumentos de Vadão, que levou provas de que seu avião particular não passou por São Paulo nos dias apontados por Marcos Valério. O deputado do PP também provou que não se hospedou no Hotel Sofitel, onde costuma ficar quando está em São Paulo, naqueles dois dias. Para Moroni, Vadão pode ter ido a São Paulo por outros meios e se hospedado em outro hotel. Moroni mostrou que Vadão esteve no Sofitel nos dias 22 e 23 de agosto de 2004 e, nesses dias, não há registro da passagem do avião do deputado no Aeroporto de Congonhas, onde fica o hangar usado para o jato King Air com oito lugares. "Tudo demonstra cabalmente que (Vadão) não utiliza exclusivamente o avião de sua propriedade em seus deslocamentos", diz Moroni.