Título: Severino faz seu diagnóstico: uma grande pizza foi assada
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/04/2006, Nacional, p. A6

Ex-deputado diz que ninguém mais será cassado

Como se fosse um doutor especialista em casos de corrupção, o ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), que renunciou em setembro para fugir de um processo de cassação do mandato, apareceu ontem no Congresso e fez seu diagnóstico: uma "grande pizza" já foi assada no plenário da Câmara, com as seguidas absolvições de deputados mensaleiros e ninguém mais será punido. "O sujeito já está fazendo a digestão, sem precisar tomar Sonrisal", ironizou Severino.

Ele acha que não vai haver mais nenhuma cassação de parlamentar envolvido com o esquema montado pelo empresário Marcos Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. "Não quero analisar caso a caso. Na época, havia a hipótese de terem recebido dinheiro de origem duvidosa. Eu fui contrário ao processo em bloco. Apoiava do jeito que está sendo feito hoje, um a um. Mas acho que não dá para punir uns e salvar outros."

Severino renunciou ao mandato porque entrou numa fase de desgaste muito grande depois que o empresário de restaurantes Sebastião Buani o acusou de haver lhe cobrado R$ 7 mil de propina para ser o escolhido numa licitação pública. "Não renunciei por causa da denúncia. Aquele sujeito é um agiota. O dinheiro foi emprestado para a campanha de meu filho, que morreu num acidente de carro", afirmou.

O ex-presidente da Câmara disse que hoje pode revelar que renunciou para preservar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Antes de ser presidente da Câmara, eu sou cidadão brasileiro. Queriam me usar para atingir o presidente Lula. Isso eu não aceitei. Se eu fosse absolvido e continuasse na presidência da Câmara, atacariam o presidente Lula, dizendo que ele tinha ajudado a salvar meu mandato", disse Severino.

O ex-deputado comentou ainda a situação do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci, de quem era amigo. "Estou lendo tudo o que já saiu sobre esse caso. Por enquanto, não vi nada que comprometa de forma decisiva o ministro Antonio Palocci."