Título: PF acha nova lista de parlamentares ligados a esquema das ambulâncias
Autor: Sônia Filgueiras
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Nacional, p. A4

Os documentos e arquivos digitais apreendidos pela Polícia Federal e pelo Ministério Público durante a Operação Sanguessuga envolvem pelo menos oito novos nomes de parlamentares no esquema de venda de ambulâncias superfaturadas que não estavam na lista sob análise da Corregedoria da Câmara. Além de agendas, projetos e farta documentação que reforçam as evidências de fraudes nas licitações, a PF apreendeu, nos computadores da Planam, todo o controle de gastos da empresa dos últimos quatro anos. Trata-se do livro-caixa do empresário Darci Vedoin, no qual constam os registros de pagamentos a parlamentares e assessores de deputados, com data e valor, se pagos em dinheiro ou cheque e, em vários casos, com número de conta corrente e do cheque.

Na listagem das despesas da Planam constam nomes que até o momento não haviam surgido, como os dos deputados Iris Simões (PTB-PR) e Tetê Bezerra (PMDB-MT). Há também parlamentares citados na lista encaminhada à Procuradoria-Geral da República, mas ainda fora das investigações da Câmara por falta de indícios mais fortes, como Pedro Henry e Lino Rossi (ambos do PP de Mato Grosso), Almerinda Carvalho (PMDB-RJ) e João Caldas (PL-AL). A documentação também compromete ainda mais parlamentares já seriamente envolvidos nas conversas telefônicas gravadas pela PF, como Nilton Capixaba (PTB-RO), Paulo Baltazar (PSB-RJ) e Benedito Dias (PP-AP). Há ainda o registro de pagamentos feitos a ex-parlamentares, como Cabo Júlio (PMDB-MG) e Laire Rosado, marido da atual Sandra Rosado (PSB-RN).

Os valores registrados vão de R$ 5 mil a R$ 50 mil. Há ainda pagamentos destinados a assessores de parlamentares. Além do livro-caixa, a PF apreendeu também os arquivos de acompanhamento de emendas para compra de ambulâncias. Trata-se de um arquivo digital no qual as emendas, identificadas pela prefeitura beneficiada, estão agrupadas sob o nome do deputado-padrinho. Esse arquivo traz o nome de dezenas de parlamentares e ex-parlamentares, mas não é considerado evidência de envolvimento direto no esquema.

Nessa extensa lista menos comprometedora estão deputados citados pela ex-assessora do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino entre os envolvidos no esquema, como Enio Tatico (PTB-GO) e Benedito Dias. Mas há também nomes sem nenhum indício de participação no esquema, como Claudio Magrão (PPS-SP) e o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Ricardo Izar (PTB-SP).

Nesse caso, a PF e os procuradores tentam separar "o joio do trigo" a partir de outro tipo de indício. Nos computadores da Planam constam arquivos com o registro da senha digital concedida pelo Ministério da Saúde às prefeituras para acompanhamento dos convênios. A PF descobriu casos em que deputados pegavam as senhas com os prefeitos interessados e as repassavam à Planam para que ela inserisse no convênio as especificações que melhor lhe conviessem para vencer a licitação. A documentação já foi periciada.

Parte do material apreendido foi entregue, sob sigilo, pelo delegado responsável pelo caso, Tardelli Boaventura, à comissão de sindicância da Câmara. "São dados extremamente importantes. Eles nos criaram um teor profundo de angústia e devem ser analisados com muito cuidado", disse Robson Tuma (PFL-SP). Tuma e o corregedor da Câmara, Ciro Nogueira (PP-PI) se recusaram a revelar nomes.

Por sua assessoria, Pedro Henry informou que aguardaria novos dados para se pronunciar. Íris Simões, Nilton Capixaba e Paulo Baltazar foram procurados, mas não deram resposta. Tetê Bezerra, Almerinda Carvalho e João Caldas não foram encontrados. Lino Rossi não exerce mais o mandato.