Título: 79% aprovam plano de imigração
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Internacional, p. A10

A esmagadora maioria dos americanos aprovou a fórmula mista apresentada pelo presidente George W. Bush em discurso à nação, na noite de segunda-feira. A fórmula combina o endurecimento da vigilância e da repressão à imigração ilegal na fronteira com o México com a criação de um programa para imigrantes temporário e a abertura de um caminho para a regularização da situação dos cercas de 12 milhões de imigrantes indocumentados já no país. Segundo uma sondagem da TV CNN, 79% dos eleitores acharam a proposta do presidente "muito positiva" ou "algo positiva".

A iniciativa de Bush não parece, no entanto, ter alterado posições entre os políticos ou ampliado o espaço para um entendimento em torno da primeira grande reforma das leis americanas de imigração em 20 anos, que está em discussão no Congresso. Republicanos conservadores, que aprovaram em dezembro um projeto de lei na Câmara de Representantes que torna crime imigrar ou ajudar alguém a imigrar ilegalmente para o país e prevê a deportação em massa dos indocumentados, viram na proposta de Bush uma forma disfarçada de conceder anistia a infratores da lei e dar-lhes uma vantagem injustificada em relação aos que aguardam, fora dos EUA, a tramitação de seus pedidos do "green card".

Em seu discurso, Bush voltou a condenar como errada e "impraticável" a idéia de enviar milhões de imigrantes de volta a seus países.

Os democratas, por sua vez, procuraram faturar politicamente a divisão entre os republicanos e criticaram a convocação de uma força temporária de até 6 mil soldados da Guarda Nacional para dar apoio de inteligência e logística aos quase 12 mil agentes da Patrulha de Fronteira, lembrando que o plano de Bush limita a três semanas o tempo de serviço de cada soldado e significará a mobilização de 160 mil soldados do contingente de 400 mil da Guarda Nacional, que já atua no limite de sua capacidade, por causa da guerra no Iraque.

A proposta de Bush não agradou tampouco aos governadores dos quatro Estados que fazem divisa com o México - Texas, Arizona, Novo México e Califórnia. Em Santa Fé, o governador do Novo México, Bill Richardson, um democrata, agradeceu o empenho de Bush, mas previu que a mobilização da Guarda Nacional terá um impacto mínimo. Seu colega da Califórnia, o republicano Arnold Schwarzenegger, chamou a solução de "band-aid".

Previsivelmente, os candidatos que lideram as pesquisas para a eleição presidencial de 2 de julho próximo no México - o país de origem de 85% dos estimados 1,6 milhão de imigrantes que cruzam a fronteira a cada ano, também foram críticos.

Felipe Calderón, o conservador que assumiu a dianteira nas pesquisas de opinião na semana passada, disse que a mobilização de tropas apenas "aumentará o custo humano e social para os imigrantes e beneficiará apenas os grupos criminosos que ganham dinheiro explorando as esperanças e o sofrimento daqueles que querem tentar uma vida melhor para si e suas famílias".

Seu principal rival, Andrés Manuel López Obrador, de centro-esquerda, disse que o endurecimento na fronteira criará mais conflitos sem resolver nenhum dos problemas.

A dificuldade do debate foi ilustrada pela derrota ontem no Senado, por 55 a 40, da proposta de um senador republicano que pretendia condicionar a consideração de qualquer projeto de lei de reforma mais abrangente à aprovação, primeiro, das medidas de segurança voltadas para ampliar o controle da fronteira com o México.

Embora o resultado tenha representado uma vitória para os parlamentares que propõem uma visão mais tolerante, o fato é que qualquer projeto de lei aprovado pelo Senado terá de ser reconciliado com o que já foi adotado pela Câmara - uma tarefa cujas chances de sucesso não parecem ter aumentado com o equilibrado discurso do presidente Bush na segunda-feira.