Título: Petrobrás pode abandonar refino na Bolívia, ameaça Gabrielli
Autor: Leonardo Goy e Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Economia & Negócios, p. B1

A Petrobrás poderá deixar de refinar petróleo na Bolívia, caso as negociações que mantém com a Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) não cheguem a um bom resultado, disse ontem o presidente da estatal brasileira, José Sérgio Gabrielli. Ele afirmou, ainda, que todos os planos de investimento naquele país foram suspensos. "Novos investimentos são muito difíceis, a menos que tenhamos condições muito diferentes das atuais", afirmou, em audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado.

A estatal brasileira tem duas refinarias no país vizinho, que produzem gasolina, diesel e GLP. Além disso, explora gás natural e o exporta através do gasoduto Bolívia-Brasil.

Mais tarde, em reunião na Câmara dos Deputados, Gabrielli afirmou ainda que o preço do gás boliviano só subirá se a Petrobrás concordar, pois o contrato de fornecimento diz que preços poderão ser revistos se houver acordo entre as partes. "A Bolívia não pode, unilateralmente, fazer o aumento."

Em uma clara pressão para fixar limites nas negociações que ocorrem em La Paz, Gabrielli explicou que a permanência ou não da Petrobrás no refino na Bolívia depende dos entendimentos sobre como funcionará a refinaria após a nacionalização. Mais especificamente, será analisado se as novas políticas de pessoal, de meio ambiente, de relações políticas e comerciais e de expansão de negócios estão de acordo com as diretrizes de uma empresa de classe mundial como é a Petrobrás.

Caso a Petrobrás decida sair, explicou ele, "a YPFB fica com 100% da refinaria - e paga por isso". A estatal boliviana também ficaria responsável pela operação da planta, que hoje responde por todo o gás de cozinha (GLP), o diesel e a gasolina consumidos naquele país.

A possibilidade de abandonar o refino, porém, não tem nenhuma relação com o fornecimento de gás boliviano para o Brasil. Segundo o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, a venda de gás é tratada em um contrato à parte, que as autoridades bolivianas prometem cumprir. "O abastecimento está garantido. As regras, estamos apostando que serão mantidas."

Rondeau e Gabrielli mostraram que há mais dúvidas do que certezas sobre como funcionará o setor de gás e petróleo na Bolívia. "O decreto estabeleceu metas,mas não disse como chegar a elas", disse Gabrielli.

Os dois estiveram na semana passada em La Paz. Na ocasião, foi criada uma comissão negociadora que vai atacar todos os pontos de dúvida desde o preço do gás até a indenização cobrada pela Petrobrás.

Enquanto as negociações correm, a estatal brasileira cumprirá a lei, inclusive a nova tributação de 82%, disse Rondeau. "A Petrobrás zela pelo cumprimento das leis. Se o decreto diz que é para deixar 82%, não vamos discutir isso agora, porque não pagar impostos é ser contrabandista."

Senadores como Pedro Simon (PMDB-RS), Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Jefferson Peres (PDT-AM) voltaram a criticar a atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na crise com a Bolívia. Rondeau e Gabrielli responderam que a posição conciliadora do governo foi importante para manter aberta as negociações. "Se os governos de Brasil e Bolívia estivessem em conflito, as duas empresas não estariam negociando", disse o presidente da Petrobrás. "O confronto levaria à guerra."