Título: Evo quer discussão 'racional' para o gás
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Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Economia & Negócios, p. B3

O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse ontem que o aumento do gás natural vendido ao Brasil e à Argentina será discutido "após uma negociação racional, que beneficie a Bolívia sem prejudicar muito esses dois países". Ele não indicou se o seu governo tem algum porcentual de reajuste para iniciar as conversações.

Em entrevista ao jornal francês Le Figaro, Evo disse que o Brasil continua sendo um aliado estratégico, "com o qual mantemos relações estreitas". Ele atribuiu o mal-entendido que teve com o presidente Lula, durante a reunião de cúpula entre a União Européia e a América Latina, em Viena, na semana passada, a "certos meios de comunicação que tentaram criar um choque" entre ambos.

E acrescentou: "Não expropriamos ninguém, não expulsamos ninguém, nem temos ressentimento em relação às empresas que exploraram os nossos recursos naturais. Quero melhorar a condição social dos bolivianos e criar empregos, e para isso, as regras do jogo devem mudar".

Com relação à petroleira hispano-argentina Repsol, Evo disse: "Temos excelentes relações com o presidente espanhol, José Luis Zapatero, que é nosso aliado, e queremos que a empresa fique na Bolívia, mas na condição de sócia, e não mais de dona ou proprietária. É também o caso da brasileira Petrobrás".

Quanto à francesa Total, afirmou: "Pelas nossas informações, a Total é a empresa (petrolífera) mais flexível e sensível às questões sociais. Estamos tentando negociar e, por isso, demos um prazo de 180 para as discussões (quando as empresas nacionalizadas dirão se desejam continuar no país apenas como operadoras, e não titulares das jazidas). Nosso desejo é realmente chegar a um acordo".

Na véspera, em Paris, ele não tocou no assunto da nacionalização da Total. Mas a direção da empresa francesa havia informado que tem interesse em permanecer na Bolívia, ressaltando que o potencial de exploração de gás natural e petróleo nesse país é muito grande. No entanto, os diretores insistiram em que a questão da desapropriação tem de ser discutida.

CHÁVEZ E ALCA Indagado sobre a relação do seu governo com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, Evo respondeu: "Quando se diz que Chávez é o meu inspirador, respondo que ele não é o inspirador de Evo, mas do povo boliviano. Os venezuelanos desfrutam de uma situação melhor que a nossa graças à soberania que têm sobre os seus recursos naturais".

Com respeito a Cuba, disse que "é um país bloqueado por um embargo, e apesar disso, ajuda a Bolívia a avançar nos campos da saúde e da educação". E ironizou: "Com Chávez e Fidel Castro formamos uma aliança bolivariana que chamamos de Alba, ou Alternativa Bolivariana das Américas, que se opõe à Alca, Acordo de Livre Comércio das Américas, proposta pelos Estados Unidos. Para nós, Alca quer dizer Acordo para Legalizar a Colonização das Américas".