Título: Empresas devem pular etapas, diz especialista
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Economia & Negócios, p. B16

As múltis brasileiras terão de pular etapas se quiserem ter alguma chance como transnacionais, avaliam especialistas. A internacionalização brasileira, segundo alguns estudos, ainda é muito focada no acesso a países importadores. A experiência mostra que exportar é o primeiro e o mais modesto passo para uma companhia alcançar a condição de transnacional.

"Muitas empresas brasileiras ainda consideram a exportação uma grande etapa da internacionalização, mas não é mais assim. Se quiserem ter alguma relevância internacional, precisam queimar etapas, avançar para associações com empresas estrangeiras, buscar ativos em outros mercados", pondera a especialista em negócios internacionais Maria Tereza Fleury, professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

Para David Travesso, professor da Fundação Dom Cabral, ainda são poucas as iniciativas de internacionalização que admitem o compromisso de investir sem retorno imediato. "Este é um aspecto interessante deste movimento recente do Brasil. As empresas querem se internacionalizar, sob a premissa da rentabilidade. Por isso, focam muito nas exportações", afirma.

De acordo com ele, a criação de uma transnacional implica abrir mão de lucros imediatos, nos primeiros anos da operação. Uma experiência internacional não tem resultados em dividendos em menos de 5 ou 7 anos. É o caso, segundo ele, da Embraer. A empresa montou uma unidade na China para atender ao mercado local.

O resultado ainda não apareceu, mas a aposta da Embraer é o futuro, quando os jatos regionais da empresa começarem a ganhar mercado lá. "Se observada hoje, a ida da Embraer para a China foi um negócio ruim. Mas talvez a empresa esteja enxergando a questão no longo prazo. Pode perder agora e ganhar no futuro", avalia a professora da FEA.