Título: Protesto no Paraná faz 108 bloqueios nas estradas
Autor: Fabíola Salvador e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Economia & Negócios, p. B6

Agricultores fizeram ontem108 bloqueios nas rodovias federais e estaduais no Paraná. Somente a Polícia Rodoviária estadual registrou 101 bloqueios. Em alguns locais eles duraram algumas horas, e em outros, o dia todo, com aberturas esporádicas para a passagem de automóveis e caminhões com cargas perecíveis. Os produtores rurais protestam contra a política governamental para o setor e pedem mais prazo para pagar suas dívidas.

O movimento foi apoiado pelos trabalhadores urbanos, que, em muitos locais, mantiveram as portas das lojas fechadas. Segundo a Associação dos Municípios do Paraná (AMP), cerca de 70% das 399 prefeituras fecharam as portas ou decretaram ponto facultativo. "A agricultura é a base da economia de grande parte das nossas prefeituras", justificou o presidente da AMP, Luiz Sorvos. O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), gravou um depoimento e fez discurso pela manhã manifestando "solidariedade absoluta" aos agricultores.

A Federação dos Transportadores do Paraná pôs os caminhões dos associados do interior do Estado para ajudar nos bloqueios. Os de Curitiba e Região Metropolitana permaneceram nos pátios das empresas. A América Latina Logística (ALL), que ainda está com dois trechos bloqueados pelos produtores, apesar de ordens de reintegração de posse, apoiou a manifestação e não colocou nos trilhos os vagões que percorrem a Região Norte do Paraná. Na Região Metropolitana de Curitiba, empresários do setor de calcário fecharam de manhã a Rodovia dos Minérios em apoio aos agricultores. Eles reclamam de queda de 70% na venda do insumo.

Na região Sul foram realizadas as maiores manifestações. Cerca de 5 mil pessoas reuniram-se em Guarapuava, percorrendo o centro com seus tratores. Em Ponta Grossa, produtores de leite distribuíram 4 mil litros à população. As pistas da BR-376, que liga o Norte ao Porto de Paranaguá, foram fechadas totalmente por algumas horas.

No Noroeste, o movimento também foi forte. No Sudoeste do Paraná todas as prefeituras declararam ponto facultativo. Até escolas municipais ficaram fechadas. À tarde houve manifestações em cinco municípios. O Norte do Paraná teve apoio maciço das cooperativas, que deram folga aos funcionários e suspenderam o recebimento de mercadorias nos entrepostos. Várias rodovias foram fechadas, com permissão de passagem apenas para carros de passeio. A praça de pedágio da BR-369, em Arapongas, chegou a ter as cancelas liberadas.

RIO GRANDE DO SUL Uma colheitadeira queimada na BR-386, em Soledade, no Norte do Rio Grande do Sul, foi a ação mais forte no bloqueio de estradas no Estado, ontem. O trecho que liga o município a Espumoso, junto ao trevo da RS-332 esteve totalmente trancado ao tráfego de veículos. Somente ambulâncias tiveram permissão para passar.

Em Carazinho, na mesma rodovia, agricultores de 30 municípios interromperam totalmente o trânsito no Trevo da Bandeira, maior entroncamento rodoviário da Região Sul, onde queimaram pneus no leito da estrada, causando um congestionamento de 12 quilômetros. O comércio de 16 cidades da região não abriu, em solidariedade à manifestação dos agricultores. O presidente da Federação dos Agricultores na Agricultura Familiar (Fetraf), Ari Pertuzatti, diz que a sua entidade não participa dos bloqueios nas rodovias: "Montamos acampamentos na beira das estradas para apoiar essas manifestações. Reivindicamos aumento dos créditos e garantia de comercialização dos produtos através do Programa Nacional de Aquisição".

Outro forte bloqueio foi realizado em Ijuí (Planalto Médio), onde produtores rurais ligados à Federação dos Trabalhadores na Agricultora do Rio Grande do Sul (Fetag) interromperam o trânsito no entroncamento da BR-285 e RS-342, sem previsão de liberação para o tráfego, enquanto em Salto do Jacuí tratores fecharam a entrada das agências bancárias do município.

Há bloqueios também na BR-101, em Torres (Litoral Norte), na fronteira com Santa Catarina; na 290 em Pântano Grande, e na 392, em São Sepé (Região Central); na BR-116 em Tapes, impedindo o escoamento do trânsito em direção à Região Sul, e também em Vacaria.