Título: População e governo apóiam o protesto
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/04/2006, Economia & Negócios, p. B10

Até as prefeituras fecharam ontem em solidariedade aos produtores

Pelo menos 10 mil produtores agrícolas de Mato Grosso aderiram ao protesto Grito do Ipiranga em 14 municípios. A manifestação nas principais rodovias federais, por onde escoa toda a produção agrícola do Estado, entrou no quarto dia com o apoio da população. Comércio e prefeituras fecharam as portas em solidariedade aos produtores. Com a crise da agropecuária, base da economia estadual, todos sentem as conseqüências vividas pelos produtores.

Os agricultores queimaram máquinas, distribuíram leite e espalharam uma carga de soja no asfalto em Sorriso e Lucas do Rio Verde, na BR-163, que liga Cuiabá a Santarém (PA). Foram montadas barreiras para impedir o escoamento da produção para os portos de Itacoatira (AM) e Paranaguá (PR).

O protesto tem apoio da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e sindicatos rurais, e é contra a política econômica, pagamento de preço mínimo pelos produtos e falta de renda no campo.

Houve manifestações com tratoraço e piquetes nas BRs 163 e 364 em Comodoro, Diamantino, Ipiranga do Norte, Sapezal, Sinop e Itanhangá, entre outros municípios. "Muito pouco foi feito para o produtor recuperar a a rentabilidade; hoje, toda a população sente o que tentamos evitar", disse o presidente da Famato, Homero Pereira.

Mato Grosso é o maior produtor de soja e algodão e tem o maior rebanho bovino do País. No Estado, pelo menos 2.100 produtores estão devendo R$ 5 bilhões aos bancos com empréstimos para financiar a produção 2003/2004. Segundo a Famato, R$ 6 bilhões deixaram de circular na economia local entre 2005 e 2006 com a crise do agronegócio. A arrecadação estadual caiu em média 40% nos primeiros meses do ano, informa a Secretaria de Fazenda. O agronegócio é responsável por 70% do PIB de Mato Grosso.

Para Pereira, o pacote de ajuda anunciado no início do mês é paliativo, pois não se espera intervenção no câmbio até as eleições. "Este protesto é um movimento legítimo e não é isolado, porque desde 2004 isso já era previsível", disse Pereira.