Título: 'Caso era pequeno para Exército'
Autor: Marcelo Godoy, José M. Tomazela e Chico Siqueira
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/05/2006, Metrópole, p. C1

O governador Cláudio Lembo (PFL) disse ontem que recusou a ajuda de tropas federais porque o Exército é muito nobre e o problema que assolou o Estado por três dias, muito pequeno. ¿O Exército é muito nobre para situações pequenas e locais¿, justificou Lembo, pela manhã. Segundo ele, o efetivo federal pode ser solicitado no futuro, eventualmente, para reforçar a guarda externa de presídios.

Embora o clima fosse de euforia no governo, Lembo passou o dia no gabinete. Só falou com jornalistas na chegada ao Palácio dos Bandeirantes. À tarde, indicou o comandante-geral da Polícia Militar, Eliseu Éclair Teixeira Borges, para esclarecer os procedimentos adotados para controlar a escalada de violência iniciada na sexta-feira, que deixou 124 mortos.

O governador voltou a negar que a decisão de não levar às ruas tropas da Força Nacional de Segurança Pública e das Forças Armadas ¿ oferecidas pelo governo federal ¿ teve motivações políticas e partidárias. ¿Claro que não. Não sou tolo. Tenho uma relação muito próxima com o presidente Lula e não é de hoje.¿ Ele questionou a competência dos policiais da Força Nacional ¿ recrutados em todos os Estados para situações de crise. ¿Não seriam 4 mil homens de fora de São Paulo, sem conhecer costumes e valores daqui, que poderiam intervir.¿

ACORDO

Quanto ao acordo do governo com lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) para acabar com as rebeliões e ataques a fóruns, bases policiais, bancos e ônibus, Lembo foi lacônico: ¿A pergunta é justa, legítima, mas me ofende, porque não há acordo com a bandidagem.¿ Segundo ele, o controle foi resultado do trabalho firme da polícia. ¿Fomos para o conflito. Num primeiro momento, a polícia teve que se recompor, porque não esperava violência tão grande¿, afirmou. ¿Mas, depois, se recuperou, foi firme para cima do crime e vencemos.¿

O governador garantiu que a população pode ficar tranqüila. ¿Temos de ter convicção de que nossa polícia é forte. Se houver (novos ataques), nós vamos responder outra vez.¿

Do caos, Lembo disse ter tirado duas grandes lições. ¿A primeira é que temos de ampliar os serviços de informação das Polícias Civil e Militar e também da Federal. Aprendemos ainda que, com tranqüilidade das autoridades, se vence o crime.¿ Para ele, uma atitude arrogante de rompimento com o Estado de Direito e a legalidade seria decisiva. ¿Teríamos perdido.¿

CELULARES

Lembo não economizou nas críticas à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), em relação à entrada de celulares nas cadeias. ¿Temos de melhorar a fiscalização, mas a Anatel, em vez de baixar resoluções centralizadoras, deveria ampliar a possibilidade de os Estados fiscalizarem os presídios.¿

O governo paulista pediu às autoridades de Brasília o fechamento temporário de Estações Rádio-Base de Telefonia Celular (ERBs) ¿ antenas de transmissão de sinal para celulares ¿ perto de presídios. Não houve acordo.